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CORAÇÃO GENUFLEXO



          Aconteceu em Resende, ano de 1990, se não me falha a memória.  O local, foi no CCRR (Centro Cultural e Recreativo Resendense).  O evento, foi a entrega do título de Cidadão Resendense, a um empresário local, de nome Marcelo Gonçalves, entre outros agraciados. 


          Um fato singular, mas curioso, aconteceu naquele dia, ou melhor, naquela noite, mas que ainda hoje guardo na lembrança. ... Reunidos no auditório do CCRR, o público, os homenageados, vereadores, e alguns políticos, entre os quais, Noel de Carvalho, na época prefeito, e também da época, o Deputado José Mauricio.  Vamos ao fato:

          ... Iniciada a sessão solene da entrega do título de Cidadão Resendense, e seguindo uma parte introdutória, ouvimos vários discursos.  Discursos muito bons, proferidos por experientes oradores. Mas eu fiquei mesmo admirado, foi com o discurso do deputado, José Maurício.

          Ele falava com voz alta, eloqüente, e com um entusiasmo que arrancava aplausos a todo instante.  Ele dispunha de um vocabulário rico, e sabia construir frases de improviso, usando palavras bonitas, e às vezes palavras não muito comuns, mas que impressionavam.  - E eu estava ali, em meio ao público presente, embevecido como muitos estavam, pelo cabedal de cultura do eminente orador.

          Já não me recordo agora, da íntegra do seu discurso, mas parece que ainda ouço uma de suas frases: "Eu e o Noel de Carvalho, de mãos dadas, e o Coração Genuflexo."
CORAÇÃO GENUFLEXO!!!  Meu ouvido atento registrou alguma coia diferente.  CORAÇÃO GENUFLEXO!
Eu nunca tinha ouvido essa expressão, daí o meu susto.  Ele a usou, num determinado momento em que falava da sua aliança com o nosso prefeito (na época), Noel de Carvalho.

          Coração Genuflexo... ... Teria o orador usado de uma impropriedade linguística?  Ou improvisado uma expressão apenas para completar sua frase com palavras rebuscadas?  Estaria correta a expressão usada?  O que significaria, na verdade?
Estas dúvidas me atormentaram pelo resto da noite.  A palavra "Genuflexo" fez recordar meus tempos de Catecismo, na Igreja Católica.  Um saudoso padre havia me ensinado, que se deve fazer uma genuflexão, ou seja, ajoelhar-se brevemente, sempre que estivermos transitando dentro da igreja, e estivermos passando diante do altar, de um lado para outro, por ser ali um lugar sagrado, e onde o Espírito Santo está sempre presente.

          Pois bem.  Procurei inicialmente, fazer uma ligação do ato de ajoelhar-se, com a expressão usada naquela noite, naquele discurso.  Mas não consegui entender; coração ajoelhado? ... Procurei no dicionário.  Lá estava:
Genuflexão, s.f. Ato de ajoelhar.
Genuflectir, v.s. compl. Dobrar o joelho, ajoelhar. 
O dicionário não esclareceu nada.
O ilustre orador, teria então usado de uma linguagem metafórica, ou de uma licença poética, ou de qualquer outra linguagem figurada.  -  Gosto de metáforas.  Algumas são bonitas, e de fácil captação do sentido que emprestam à frase, como por exemplo:
... o pé da mesa.
... os olhos do dia vão se abrindo, lentamente...

          Mas coração Genuflexo... O nosso brilhante orador não cometeu nenhum erro, porque sei que a nossa querida Linguá Pátria é muito rica e permite que se construa frases usando dos muitíssimos recursos que ela oferece.  Mas o registro fica apenas por conta do fato curioso, cuja frase ainda me soa incomum, e que eu não conseguiria usar: Coração Genuflexo!


         

AMIGOS



Estes São alguns amigos de Passa Quatro-MG.  Tenho muitos, e gostaria de coloca-los todos aqui, mas enfim, eles  estão bem guardados nas minhas lembranças.
Estes amigos são: Sidnei, Floramante, Julia, Cesar, Afrates, João Luis, e todos podem ser encontrados no Facebook.



Em Resende-RJ, também tenho muitos amigos, e aqui estão alguns deles: Luis Henrique, Daniel, Renata, Marco Aurélio, Sezar Sasson e Vera Cianelli.  Maiores detalhes destes amigos, no Facebook.



Saúdo a todos estes estimados amigos, com votos de Felicidades.  A eles, e a todos os caros leitores deste meu Blog, o meu muito obrigado, seja pelas críticas, elogios ou sugestões. Ficarei feliz, se curtirem a minha página. Felicidade a todos!

LER É PRECISO



          Estamos no inicio de um novo milênio.  Uma época de grandes transformações: da tecnologia, da informação.  O maior meio de comunicação atualmente, é a televisão.  E muitos se deixam hipnotizar por este onipresente engenho eletrônico, que diariamente está bombardeando os telespectadores com programas de todo tipo, na guerra pela audiência.  E de fato, crianças e adultos certamente sofrem algum tipo de influência deste e de outros meios de comunicação.


          Mas o mundo tem se mostrado muito violento na TV.  Infelizmente é a nossa realidade, mas neste caso, a sua influência talvez seja nefasta, agressiva.  Isto não significa no entanto, que tudo está perdido.  Acreditamos até, que justamente por estarmos no inicio de um novo milênio, ou no limiar de uma nova era, as transformações serão bastante positivas.  

          Se por um lado a TV promove a violência, ela serve também de veículo para promover a cultura e o entretenimento sadio.  Acreditamos que esta seja uma tendência, cada vez mais acentuada neste futuro próximo.

          Não faz muito tempo, estávamos assistindo pela TV, uma campanha publicitária comemorativa dos 500 anos do descobrimento do Brasil.  Em outra campanha, a bela e simpática Angélica, apresentava o projeto "leitura nas férias".  Ler é preciso; um hábito que já foi melhor cultivado, e que diminuiu muito, talvez porque as pessoas atualmente assistem mais televisão.  

          Ler, enriquece o nosso vocabulário, e enriquece o nosso espírito. É um exemplo que devemos transmitir aos jovens, às crianças.  Sobre a importância de ler, Monteiro Lobato, brilhante escritor brasileiro, nascido em Taubaté-SP, declarou certa vez que, "um país se faz com homens e livros";  e também o nosso conhecido Ziraldo, numa sacada inteligente, afirmou que, "ler, é mais importante que estudar"...

          Um professor francês, Daniel Pennac, autor de um livro intitulado "Como um romance", apresenta em seu livro, uma declaração dos direitos imprescritíveis do leitor:
1º: O direito de não ler;
2º: O direito de pular páginas;
3º: O direito de não terminar um livro;
4º: O direito de reler;
5º: O direito ao bovarismo (referência a Madame Bovary, personagem do romancista Flaubert, que se entregava com volúpia ao mundo das sensações.  Aqui, significa deixar-se arrebatar pela leitura).
6º: O direito de ler em qualquer lugar;
7º: O direito de ler uma frase aqui e outra ali;
8º: O direito de ler em voz alta;
9º: O direito de calar. 
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          Um pensamento (anônimo), também diz que, "uma casa sem livros, é um corpo sem alma"...

          Bem, todas essas considerações, ilustram a importância da leitura.  Ler, significa enriquecer nosso intelecto, nossa cultura, ampliar nossos horizontes.  Existe um mundo fascinante a ser descoberto através da leitura; e existe uma imensa variedade de bons livros que merecem ser lidos.  O importante é ler, ler de tudo; romances, poesias, jornais, crônicas, ensaios, contos, etc...  Através desta prática, podemos descobrir um estilo, uma filosofia, ou um autor que mais se identifica conosco.

          Um livro deve ser lido, pelo menos duas vezes.  É curioso notar que, quando lemos um bom livro, absorvemos da sua leitura, algum tipo de aprendizado: quando lemos esse mesmo livro pela segunda ou terceira vez, sempre descobriremos algo de novo; é como se fosse uma nova experiência, um novo livro. 

          Nos meus tempos escolares, eu ficava fascinado com o autor, José de Alencar, e o seu romance "Iracema"; ainda hoje, guardo na memória algumas de suas frases, por sua belíssima construção:  "Verdes mares bravios da minha terra natal, onde canta a jandaia nas frontes da carnaúba; verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas";

          Em outro trecho do romance: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira; o favo da jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque o seu hálito perfumado"...
(Jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel).  Esta obra-prima de José de Alencar, foi escrita totalmente nesta forma de prosa lírica, em que o leitor se delicia com sua musicalidade, com a riqueza de suas comparações metafóricas, entre outras figuras de linguagem.

          Enfim, como esta, outras obras, outros estilos são igualmente ricos, revelando que a nossa língua portuguesa é sem dúvida, uma das mais belas e sonoras ao ouvido, ao intelecto e ao espírito. A propósito, vale a pena refletir sobre o que disse José Bonifácio, sobre a língua portuguesa: 
"É a língua portuguesa bela, rica e sonora, menos dura que a alemã e a inglesa, mais enérgica e variada ao ouvido que a italiana, mais suave e natural que a castelhana, e superior em tudo, à francesa".

          Nestes tempos modernos, em que impera a tecnologia eletrônica, o computador pode ser uma excelente ferramenta na produção de livros, e de armazenamento de informações, mas não pode ainda, substituir o prazer de uma boa leitura, e a televisão, pode ser muito útil para promover a divulgação de bons hábitos e bons livros. 

          Um livro pode ser atualmente, a opção de um bom presente.  E barato, apesar de possuir um valor imensurável, calculado apenas por aqueles que sabem apreciar o valor de uma boa leitura.
"Bendito quem semeia livros, à mão cheia"  (Castro Alves).

HANDICAP

Estrangeirismos          Certa vez, num bate-papo informal, um dileto amigo apesar de bem intencionado, cometeu uma gafe linguística que me deixou confuso por alguns instantes.  O amigo, o qual me refiro, trabalhava nume empresa de grande porte instalada na região.  Uma multinacional.  Eu trabalhava numa empresa do setor privado.  Conversávamos


          Eu falava de experiências adquiridas naquela verdadeira escola ou universidade prática que era a "minha empresa".  ... Foi quando, para reforçar minhas palavras, o meu interlocutor imprudentemente sentenciou:
- "O seu maior handicap, é justamente contar com todos esses anos de serviço em uma mesma empresa"...

          - ? ! !...após breve momento desconcertante, captei o ue o meu amigo quis dizer, mas permaneci calado.  Apenas intimamente não concordei com a palavra, ou termo usado por ele. Eu já conhecia o significado da palavra handicap.  Já ouvira críticas a respeito.  Já ouvira locutores de rádio, usando e abusando dessa confusa palavrinha "importada". 

          Qual seria então, o seu real significado? Em se tratando de uma palavra estrangeira, qualquer dicionário inglês/português, vai traduzir: Handicap: desvantagem imposta a competidor mais forte; v.t. handicapped : restrições, dificultar, estorvar...
Portanto, handicap, ou handicape (forma aportuguesada), significa desvantagem, e não vantagem como queria o meu bem intencionado amigo.

          Essa palavra, foi muito propalada nos anos oitentas, quando locutores de rádio, principalmente esportivos, a usavam em frases mais ou menos assim:
"Será um jogo difícil, porque o time contará com o handicape de torcida e de campo"...
"Embora o Flamengo tivesse todos os handicapes imagináveis, venceu o jogo".
Trata-se de um estrangeirismo, como tantos outros ue o brasileiro gosta de trazer para a nossa língua.
Tudo bem, não é nenhum pecado usar um termo emprestado de vez em quando, até mesmo aportuguesa-lo, como é o caso de handicape. O fato é bastante natural.

          Nossa língua já foi mais fechada a termos estrangeiros.  Hoje , no entanto, temos até necessidade do uso destes estrangeirismos, venham de onde vierem.  Estamos vivendo num mundo dinâmico, onde a tecnologia, principalmente a informática, nos arrasta diariamente a uma gama de novos termos.  Mas é bom não exagerar, para não distanciarmos muito da nossa língua, que também é muito rica e bonita.

          Fernando Pessoa, um escritos famoso, disse certa vez: "Minha Pátria, é a Língua Portuguesa".
Bonito pensamento, porém hoje, não é tão prático em termos linguísticos. Sem exageros, é claro SEM HANDICAPES.


À LA PAGE

          "À la page", é uma locução francesa muito difundida nos meios literários, que significa estar em dis com a moda ou com o gosto reinante, ou ao corrente do que se faz ou que se diz.  É uma criação da linguagem popular que passa à literatura.


          Vamos tomar um exemplo prático: Regina Casé, apresentou na TV, não faz muito tempo, um programa chamado "Muvuca".  Essa palavra, em breve estará em todos os dicionários, significando um agrupamento de pessoas ou de coisas, conforme explicado pela própria Casé.

          A língua é um costume.  Sendo assim, qualquer transgressão à norma culta deixa de sê-lo no exato momento em que a maioria do povo a cometa, passando desta forma, a constituir um fato linguístico. É também necessário o aval da nossa Academia Brasileira de Letras. 

          Outras palavras existem, já consagradas à nossa língua, como por exemplo, "zorra", significando confusão,  ou "saliva", no sentido de conseguir algo através de conversa,  ou "muquirana", que além de piolho, significa também aquele indivíduo sovina, avarento, mesquinho, maçante, aborrecido, enfadonho, chato, etc.

          Existem palavras, que mais se aproximam de uma linguagem vulgar, como por exemplo, "mocó",  "butuca",  "rango", "massa",  e outras mais.  Neste sentido, existe uma infinidade de palavras que se constituem um verdadeiro dialeto.  Se usada com moderação e no momento certo, a gíria pode se constituir uma forte expressividade, mas o seu abuso, e de forma chula, pode se constituir num flagelo da nossa linguagem.

          A gíria, em transgressão à norma culta, só é admitida na língua falada.  A língua escrita não a tolera, a não ser em casos muito especiais, como na comunicação entre amigos, etc.  Mas no recesso do nosso lar, por exemplo, qualquer pessoa, por mais culta que seja, pode e deve usar de uma linguagem informal.

          Falando em palavras novas, existe uma palavra muito usada atualmente, mas que na verdade não encontra (ainda), abrigo seguro em nossa língua culta: é a palavra "Manauara".  Não existe. Quem nasce em Manaus, é manauense.  Os defensores da palavra "Manauara", dizem que esta significa aquele caboclo, meio índio, muito embora tenha nascido em Manaus.  Ora, se nasceu em Manaus, não há porque discrimina-lo.  É manauense.

          Nós brasileiro, estamos aprendendo atualmente a ser mais exigentes em relação a certos produtos e serviços.  Fala-se muito, em qualidade.  Qualidade total, satisfação do cliente, etc. Bem, mas acho que falta-nos ainda, sermos mais exigentes em relação à nossa própria língua.  Afinal, não só de pão material vive o homem, mas por igual do pão do espírito. Nossa palavra tem força espiritual.
questões sobre a língua portuguesa

JOKES

Piadas que ouvi contar...


Água Mineral
          Conta-se que um Ministro inglês, encontrava-se no palácio real, e estava tomando banho numa banheira. Estava à vontade,  com a porta do banheiro entreaberta.  Um criado (garçon) do palácio estava passando pelo corredor naquele momento, e algo lhe chama à atenção.  Espia pela porta entreaberta, e vê o ministro tomando banho.  Imediatamente segue pelo corredor, e dentro de instantes, retorna com uma rica bandeja e sobre esta, uma garrafa de água mineral.
Chega ao ministro ainda dentro da sua banheira, e lhe diz:
- Yes, Sir, your water.  (pois não, senhor, sua água);
O ministro, estranhando essa atitude, lhe diz:
- What are you doing?  I didn't ask for anything... (O que você está fazendo? Eu não pedi nada)...
Mas o criado lhe responde: pediu sim senhor, eu estava passando por aqui, olhei pela porta e ouvi perfeitamente quando o senhor disse: "Give me a bottle of Mineral Water"...


Detetives
          Certa vez, houve na Inglaterra, uma reunião de detetives. Entre muitos que estavam presentes, havia um detetive inglês, um americano e um português.
Cada um devia apresentar-se, e dizer o seu nome.
O detetive inglês apresentou-se:
- My name is Holmes. - Sherlock Holmes...
Houve murmúrios de admiração, por se tratar de um detetive tão famoso...
O segundo detetive, também apresentou-se:
- My name is Bond. - James Bond...
Mais murmurios, de admiração.
O terceiro detetive (português), apresentou-se:
- My name is Quim...
Alguém lhe solicita: Please, your full name (seu nome completo, por favor)
My name is Quim. - Joa-quim...


Um caipira em Nova Iorque.
          Um caipira (mineiro), aprendeu meia dúzia de palavras em inglês, tipo; I love you, How do you do, etc, e já se julgava dominando a "prosa" estrangeira.  E assim resolveu ir para Nova Iorque. Foi.
Lá em Nova Iorque, andando pela rua, resolveu comprar um pedaço de fumo de rolo, pra fazer um cigarrinho de palha.  Por sorte, encontrou uma lojinha pequena, um comercio de quinquilharias. Em Nova Iorque encontra-se de tudo, produtos do mundo inteiro.
          E o nosso caipira encontrou o que queria: um pedaço de fumo de rolo. Comprou.
A mocinha da loja lhe pergunta:
          - Once more? 
          - Eu mor em Itanhandu...
PIADAS


ERRADO PRA CACHORRO

          Vou contar dois casos.  Diferentes no contexto, mas semelhantes na sua manifestação. 
CASO I: um sujeito lá da minha terra, (MG), depois de haver tomado umas "timbucas", foi ao cemitério, chorar junto ao túmulo de um amigo.  Seu lamento era mais ou menos assim:


          ...- Meu melhor amigo, de tanto tempo! Por que você nos deixou?  A nossa turma lá no bar sente tanto a sua falta!...  Eu queria ter ido no seu lugar... Buááá, buááá... Meu amigo, meu melhor amigo, buááá, buááá... Quantas pingas nós...

          Nesse momento, porém, surge alguém para interromper a sua choradeira, dizendo-lhe que aquele túmulo não era o do amigo por quem ele chorava; - Não?!... - Não.  - Uai! Então eu chorei errado!...  E o bebum saiu trocando as pernas por entre outras tumbas...
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CASO II:  este caso, aconteceu comigo.  Diferente do bebum, eu apenas namorei errado, sem saber.  Foi assim: 

          Eu tinha apenas 16 anos, e havia arranjado uma namoradinha.  Foi lá na minha terra, em Passa Quatro.  Ela se chamava Maria Helena.  Isto aconteceu às vésperas de me transferir para Resende, onde estou até hoje.  Mas antes dessa inevitável separação, tivemos apenas dois ou três encontros muito tímidos e furtivos, pois naquele tempo, algumas garotas ainda namoravam "escondido". (escondido dos pais, dos irmãos, e de alguns vizinhos fofoqueiros). 

          Mas, separados pela distância, continuamos o nosso namoro por correspondência.  Mas tudo em segredo. Combinamos que eu mandaria minhas cartas para o endereço de uma garota chamada Otacília, amiga da Maria Helena.  Ah, e como eu também admirava essa amiga da minha namoradinha. 

          A Otacília era linda, de olhos verdes... Mas eu era fiel à minha Maria Helena.  Muitas cartas de amor trocamos.  A Maria Helena tinha uma caligrafia muito bonita, qualidade que eu admirava.  Suas letras eram grandes e arredondadas, mais parecendo um desenho artístico.  Muitos elogios eu sempre fazia à sua letra.  Acho que naquela época eu acabei me apaixonando de verdade, não só por suas cartas de amor, mas em especial por ser ela, Maria Helena, a dona daquela caligrafia tão bonita.

          Diz um ditado porém, que o azeite não se mistura com a água.  Algum tempo depois, a verdade veio à tona.  Descobri que eu estivera todo aquele tempo, namorando, ou me correspondendo, não com a minha Maria Helena, mas com a Otacília.  Aquelas palavras, aqueles "beijos" trocados por carta, e aquela caligrafia tão bonita, não eram da Maria Helena, minha namorada, mas sim da sua amiga, a Otacília.  Que decepção!...

          Descobri, por uma fatalidade do destino.  A Maria Helena também se mudou de Minas para São Paulo, junto com sua família, e o fato me foi comunicado pessoalmente por Otacília, lá em Passa Quatro; e ela me passou o novo endereço da Maria Helena.  Ainda iludido e mais que depressa, mandei uma cartinha para São Paulo, para minha namorada, pouco me importando com a possível rejeição da sua família.

          E recebi a resposta, desta vez, da própria Maria Helena:  Uma cartinha mal escrita, cheia de erros, uma letra horrível, palavras de quem mal sabia escrever.  Sinceramente, não sei como explicar. Acho que me senti como um cachorro quando quebra um vaso, ou seja, constrangido, decepcionado.
E assim terminou aquele namoro, que por um momento foi lindo, tal qual uma bolha de sabão, 
 Ploft...


GENITÁLIA PROCESSUAL

          Esta estória, não é brincadeira não... Aconteceu de fato.  Acho que foi no 1999 ou 2000 se não me falha a memória. Um caso que foi parar no Fórum de Resende. "Só sei que foi assim":


          Uma mulher (que não era feia, mas também não era bonita), se desequilibrou dentro de um ônibus em movimento e... Catapimba! Caiu por cima de alguns outros passageiros.  No que ela caiu, seu vestido levantou, deixando ver a sua genitália completamente desnuda. - Oh!!!

          Mas a mulher, mais do que rapidamente se pôs de pé, se recompôs, e para disfarçar, ainda meio sem graça, perguntou a um passageiro que ali estava, do seu lado, boquiaberto: - "Viu a ligeireza?" O passageiro respondeu: - "Ver eu vi sim, mas não sabia que tinha esse nome não"... A mulher ficou vermelha. De vergonha, ou de raiva, sei lá...

          Inconformada, a mulher culpou o motorista pelo vexame e processou a Empresa de Ônibus.  Não pela queda sofrida, mas pela consequência.  Afinal de contas, a sua respeitavel intimidade havia sido exposta no interior de um coletivo super lotado, e pior: num momento em que ela se encontrava "desprevenida".  

          Uma advogada de Itatiaia foi constituída para defende-la.  A advogada deu entrada numa ação inicial junto ao Fórum de Resende, pedindo indenização de R$3..000,00 (três mil reais). Alegou danos morais sofridos pela sua cliente.  E na sua petição, a Advogada contou direitinho essa estória, Tintim por tintim. 

          Em que pese a experiência dessa advogada, porém, nem tanto teria sido necessário relatar; bem que ela poderia ter minimizado, ou poupado certos detalhes.  Chegou a ser engraçado, contar essa estória com a devida vênia, dentro daquela austeridade reinante na sala de audiências do Fórum. Ninguém sorriu, mas podia-se adivinhar as risadinhas contidas nas faces do Meritíssimo e demais Excelências presentes.

          Do outro lado, a reclamada, ou seja, a Empresa, devidamente representada por seus prepostos, que se recusaram a pagar qualquer quantia à reclamante.  Não houve acordo.  A advogada recorreu, insistiu, arrolou testemunhas, mas os juízes que analisaram a questão, também não deram ganho de causa àquela... "Genitália processual".

          Ainda bem, pois caso contrário, já imaginaram se a moda pega?...
Transporte Coletivo de Passageiros



PAPAI NOEL ESTRESSADO

          Meu bom amigo Luis Henrique (aquele do Grupo Folclórico do Penedo), de vez em quando me manda por E-mail (villekohn@gmail), algumas coisas interessantes, que ele encontra na internete.  Ele ma mandou esse texto, do Papai Noel estressado.  Achei tão divertido, que resolvi compartilha-lo com quem interessar possa.


Cartinhas ao Bom Velhinho, que já anda de saco cheio.

Kerido Papai Noéu:
eu queria ganha um joguinho espaciau de prezente de natau...
Tenho sido um bom minino neste ano.  Ti adoro, Marco.

Querido Marco:
Sua ortografia é excelente!!! Parece um índio escrevendo...
Definitivamente, você terá uma brilhante carreira na vida... Como auxiliar de pedreiro...
Tem certeza de que não prefere um livro de português? Quanto ao joguinho espacial, darei ao seu irmão, pelo menos ele sabe escrever.
Um abraço, Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Não sei se você pode, mas eu gostaria de ver meus pais juntos outra vez este ano.
Com amor, Julia.

Querida Julia:
E o que você quer garota?
Que eu arruíne a relação do seu pai com a secretária?  Deixa ele se divertir com uns seios de verdade!!!  Melhor te dar uma Barbie.
Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Tenho sido uma boa menina este ano.
A única coisa que peço é paz e amor para o mundo.
Com amor, Sara.

Querida Sara:
Você anda fumando maconha?
Papai Noel.
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Querido Papai Noel.
Poxa, fazem 3 anos que venho pedindo um caminhãozinho de bombeiro, e nada...
Por favor, vê se desta vez me traz um.
Obrigado, Luis.

Querido Luis:
Seus pedidos já me encheram o saco!!!  Outra coisa... não é "fazem 3 anos"... cacete, não aprendeu ainda?  Use sempre "faz 1 ano";  "faz 3 anos";  "faz 2000 anos".  O verbo fazer no sentido de tempo não vai para o plural... ah, deixa prá lá... Mas enfim, desculpe-me, por favor. Quando você estiver dormindo, cou incendiar a sua casa.  Assim terá todos os caminhões de bombeiros que sempre desejou.
Papai Noel.
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Querido Papai Noel: Quero uma bike, um Nintendo, um computador, uma caixa de lego, um cachorrinho, um pônei e uma guitarra.  Com carinho, Tibúrcio.

Querido T I B U R C I O :
Mais alguma coisa? Quem foi o infeliz que te deu esse nome? Huahuahuahuah!!!
Na verdade você não quer porra nenhuma, não é mesmo? Porém tenho uma sugestão...
Porque você não pede um nome novo?
Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Deixei embaixo da árvore de natal umas empanadas para você e cenouras para as renas.
Um beijinho, Susane.

Querida Suzane:
Empanadas me dão diarreia, e cenouras fazem minhas renas peidarem na minha cara...
Quer me agradar, sua puxa-saco?
Ao invés de porcarias, ponha uma garrafa de Chivas, uns toblerones e convença sua mãe a se por com aquela lingerie transparente que ela usa com o carpinteiro.
Um beijão, Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Por favor! Por favor! Por favor! Por favor!  Dá um cachorrinho pra mim!!
Por favor! Por favor! Por favor!
Com imploração, Juninho.

Querido Juninho:
Esse tipo de imploração funciona melhor com seus pais, já que você é adotado...
(Ops falei! Agora já era) e eles te toleram demais... Comigo não funciona...
Comigo o buraco é mais embaixo.  Pare de ser mala, vou te dar outro pijama.
Papai Noel (Hehehe)...
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FELIZ NATAL A TODOS !


"CAUSOS" DE POLICIA

VampiroCASO 1: Uma senhora vai à delegacia de policia, apresentar queixa do marido.  Alega que o marido bebe muito, bate nas crianças e quer botá-la pra fora de casa.  Ao mesmo tempo, suplica ao delegado:
"sabe seu dotô, mas eu não queria que o senhor prendesse ele não... Eu só queria, que o senhor desse um susto nele"...
O delegado, já acostumado com essas queixas tão comuns, responde irônico:
-- Ah, é só para dar um susto nele? Está bem, eu vou me vestir de vampiro, vou lá e dou um SUSTO (!) no seu marido...


CASO II:  Outro caso semelhante, é de uma outra senhora que comparece na mesma DPO de Resende, para dar queixa, desta vez, contra o seu genro.  E, conta o seu drama:  d"minha filha, vive com o fulano de tal.  Mas o meu genro bate muito nela... Minha filha está com o corpo todo marcado e tanto apanhar, e..."  O policial de plantão intervém:
-- mas, minha senhora, vai ver que a sua filha gosta de apanhar...
-- Como assim? Por que o senhor diz isso?
-- Sim, minha senhora, porque na verdade, quem deveria apresentar queixa é a sua filha, mas vai ver que ela gosta de apanhar.  Tem muita mulher que gosta.  Eu conheço muitas.  Mas elas não dizem, e nem largam do marido.  Por mais que sofram.  Vai ver que é o caso da sua filha.  A senhora já pensou nisso?
O policial tanto falou, que a mulher ficou em dúvida, saindo da delegacia sem resolver o problema da filha. 
--- ..." É, vai que os home tá com a razão "...

CASO III;  Este caso ficou famoso em Resende.  É o caso dos baldes.  Vamos recorda-lo para quem ainda não conhece.  Aconteceu no bairro Cidade Alegria, em um daqueles blocos de apartamentos.
          ... Certa mulher casada, não obstante, ficava feliz em receber a visita cada vez mais frequente do "Ricardão" (na ausência do marido, é claro).  E, para tanto, bolaram um plano que funcionou bem durante certo tempo.  Até que um dia...
Bem, o caso é o seguinte: eles combinaram uma senha: A COR DO BALDE;  se o marido estava em casa, a mulher colocava um balde vermelho no lado de fora da porta de entrada do apartamento, significando "barra suja", mas se o marido não estava, ele colocava um balde cor verde, significando que o Ricardão poderia entrar, que a "barra estava limpa" ...
Aconteceu que um dia "o caldo entornou".  A mulher esqueceu de trocar o balde verde pelo vermelho, e não deu outra: o Ricardão, cheio da confiança e liberdade para com a mulher, adentrou o apartamento como se estivesse em sua própria casa;  o maridão, naquele minusculo apartamento, deu o "flagra" !!!... Foi a maior confusão.  O caso foi parar direto na delegacia, para gozação geral, principalmente dos radialistas que adoram estorinhas policiais desse tipo, para dramatiza-las em seus programas radiofônicos. 
Como diz o ditado: TANTO VAI O CÂNTARO À FONTE QUE UM DIA VEM QUEBRADO...




GAFITES

          Gafite, segundo Luiz Antonio Sacconi, professor de português de Ribeirão Preto-SP, é uma espécie de vírus que ataca, não nossos computadores, mas a nossa língua portuguesa, falada ou escrita.  Seria, por assim dizer, o supra-sumo da gafe, ou em outras palavras, a gafe levado ao seu limite máximo de intolerância.


          As gafes que vamos apresentar nesta oportunidade, andaram rolando aí pela internete, e foram-me enviadas por uma cunhada, que por sua vez, recebeu de uma amiga, "and so on"... São pérolas extraídas das redações dos exames vestibulares do ano de 2002, cujo tema foi "Mãe Natureza".  São muitas, e aqui apresentamos algumas, respeitando a forma, ou a grafia com que foram escritas:

"os desmatamentos de animais precisam acabar"...
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"precizamos de menos desmatamentos e mais florestas arborizadas"...
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"é um problema de muita gravidez devido aos raios ultra-violentos"...
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"os lagos são formados pelas bacias esferográficas"...
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"o problema ainda é maior se tratando da camada Diozoni"...
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"na época de Cristo não haviam hindustrias para poluir e assim mesmo haviam problemas sociais entre os povos"...
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"o que é de interesse de todos nem sempre interessa a ninguém"...
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"a natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás"...
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"não preserve apenas o meio ambiente, mas sim todo ele"...
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"hoje endia a natureza não é mais aquela"...
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"precisamos agir de maneira inesperável".,..
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"na Amazonas está cendo a maior derrubagem e extração de madeira do Brasil"...
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"vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós"...
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"por isso eu luto para atingir os meus obstáculos"...
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"o fenômeno Euninho"...
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          Conclusão: de quem seria a culpa desta dramática situação? Do ensino que está cada vez mais ruim, ou dos nossos estudantes que estão cada vez mais desinteressados?
Não sei, é triste essa constatação, mas valem estas gafes, como terapia do sorriso...



PARA RIR, OU CHORAR

          Talvez, alguém ainda se lembre do fato: acho que foi no ano de 1978, quando o Jornal do Brasil trouxe uma pequena matéria intitulada "COBRA EPIGRAFADA".  Naquela época, achei aquele artigo simplesmente hilariante.  Parecia piada, mas o artigo chamava à atenção para uma dura realidade.  Realidade que ainda hoje assola este país em termos de cultura, e de agressão ao vernáculo.  Tive o cuidado de recortar o artigo publicado, e guarda-lo.  Hoje, passados mais de 30 anos, ocupo-me nesta crônica em reproduzir aquilo ue foi publicado pelo JB.  Aqui vai, pois, a sua reprodução exatamente como foi escrito:


          Cobra epigrafada. - Poucos textos ultimamente publicados conseguem ser tão deliciosos e ao mesmo tempo tão dramáticos quanto a página assinada por Eduardo Almeida Reis, no último número da revista Granja.
Depois de se debruçar sobre os relatórios da Carteira Agrícola do Bando do Brasil, Almeida Reis pinçou frases neles contidas e as transcreveu tendo o cuidado de conservar a grafia e estilo dos fiscais do Banco.  São muitas, e aí vão reproduzidas algumas:

- "O sol castigou o mandiocal.  Se não fosse esse gigante astro, as safras seriam de acordo com as chuvas que não vieram".
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- "Mutuário triste e solitário pelo abandono da mulher, não pode produzir".
***
- "Acho bom o Banco suspender o negócio do cliente, para não ter aborrecimentos futuros".
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- "Vistoria perigosa.  As chuvas pluviais da região inundaram o percurso que foi todo feito a custo".
***
- "Trajeto feito a pé, porque não havia animal por perto.  Despesa grátis".
***
- "o contrato permanece na mesma situação da vistoria anterior, isto é, faltando fazer as cercas que ainda não ficaram prontas".
***
- "Foi a vistoria feita a lombo de burro com quase 8 quilômetros".
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- "Está vendendo em barraca emprestada de dia e de noite fazendo coisa boba".
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- "A máquina elétrica financiada é toda manual e velha".
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- "Financiado executou o trabalho braçalmente e animalmente".
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- "O gado está gordo e forte mas não é financiado e sim emprestado para fins de vistoria que abri o bico".
***
- "O curral todo feito a caprixo.  Bem parecendo um salão de baile a fantasia".
***
- "cobra - Comunico que faltei ao expediente do dia 14 em virtude de ter sido mordido pela epigrafada".
***
- "Visitamos o açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio".
***
- "Os anexos seguem em separado".
***
- "A lavoura nada produziu. Mutuário fugiu montado na garantia subsidiária".
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- "Era uma ribanceira tão ribanceada que se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo escorregasse, adeus fiscal".
***
- "Tendo em vista que o mutuário adquiriu aparelhagem para processar inseminação artificial, e que um dos touros holandeses morreu, sugerimos que se fizesse o treinamento de uma pessoa para tal função".
***
          A bola fica pois, com Almeida Reis, que termina lamentando a tragédia de um país que tem tido sua Agricultura entregue aos leigos de todo gênero, tragédia de confiscos, tabelamentos, alucinação fiscal e fundiária, loucura dos juros, em meio ao Governo de quem falou, um dia, em prioridade para a Agricultura.




O COIÓ


Menino tolo

          Coió, é uma palavrinha espirituosa; parece gíria, mas existe de fato.  Alguns dicionários a registram com o significado de menino tolo. 


          ... Era uma vez um menino.  Seu nome era Luiz.  Não se lhe conhecia o sobrenome, pois todos o chamavam apenas de LUIZ.  Ele não tinha nem mesmo um apelido, como era comum a tantas outras crianças da sua idade.  Luiz tinha 10 ou 11 anos, e possuía alguns traços marcantes: cabeça grande, sobrancelhas negras e espessas emendadas uma à outra sob a testa; uma expressão jocosamente caipira.  Parece que fora caracterizado ou produzido para participar daqueles folguedos juninos. Mas não; estas eram suas feições naturais, e não obstante, a sagacidade e as brincadeiras das outras crianças, lhe pouparam o desconforto de uma alcunha injuriosa.

          Na bucólica cidade zinha onde morávamos, um rio separava a cidade do campo.  Era o rio Passa Quatro.  A cidade crescera ocupando a margem esquerda do rio, e na margem direita, via-se apenas alguns casebres, e os terrenos de uma fazenda.  Margeando o rio, havia também uma estreita estrada de terra.

          Luiz morava no campo, num daqueles casebres que formavam a paisagem.  Bastava-lhe atravessar uma ponte de madeira sobre o rio divisório, caminhar uns cem metros, e já estava na cidade.  Esse trajeto, não demorava mais que 10 minutos de sua costumeira caminhada.

          Aos domingos, eu costumava passar boa parte do dia, pescando à beira daquele rio.  Era um rio pequeno, de corredeiras rasas, mas embaixo daquela ponte, formava um volume d'água, semelhante a uma lagoa, que a gente chamava de poço fundo.  O local era ótimo para uma pescaria, e o rio era rico em pequenos peixes.

          O luiz, sem ter algo para fazer objetivamente, também passava boa parte do dia como "barata-tonta", ou seja, atravessando a ponte sobre o rio, de um lado para outro, no trajeto de sua casa para a cidade, e vice-versa;

   -  Aonde você vai, Luiz?
   -  Vou para a cidade.
   -  Fazer o que?
   -  Nada...
   -  Ôoh, Luiz! Aonde você vai?
   -  Vou para casa.
   -  Fazer o que?
   -  Nada...

          Do sossego da minha pescaria, eu observava o garoto; me parecia sem nexo suas idas e vindas, de lá pra cá, de cá pra lá... e para nada...(?) - Podia-se repetir mil vezes aquelas perguntas, que as respostas do garoto eram invariavelmente as mesmas.  E cada vez que o Luiz passava por ali, cruzando a ponte, ele também fazia sua perguntas sempre repetitivas;

   -  Pegou "ARGUM?"  (Ele queria saber se eu havia apanhado alguns peixes).
   -  Sim... (eu respondia).
   -  "Deixa eu ver?"  (Eu lhe mostrava uma fieira de peixes, e ele se dava por satisfeito);
   -  AAHH !...
          Na ida para a cidade, ou de volta para sua casa, naquele vai e vem, o Luiz queria saber: "pegou argum?";  "Deixa eu ver?"

          Certa vez, acho que eu não estava muito bem humorado, e antes que ele me perguntasse se eu havia "pegado argum", fui logo respondendo:
   -  "Argum" não peguei não, ôoh, Chico Bento, peguei foi lambari, mandi, timburê...
   -  Deixa eu ver?
   -  A cobra comeu...
   -  AAHH !

          O garoto era tão chato e tolo, que até esta estória ficou parecida com ele; assim meio coió, sei lá...

JOSÉ E MARIA

          Pode ser puro saudosismo de minha parte, relembrar certas coisas de antigamente.  Mas eu guardo boas lembranças dos velhos tempos, desde velhos amigos, a outros detalhes bastante interessantes. Lembro por exemplo, da minha primeira escola.  Foi o Grupo Escolar Presidente Roosevelt, onde as professoras eram verdadeiras sacerdotisas da educação.


          Lembro também do meu primeiro dia de aula: havia muitas crianças matriculadas, e sendo assim, o 1º ano foi dividido em 2 turmas, em salas diferentes.  A escola era muito rigorosa em termos de regulamentos. Todos os dias, os alunos tinham que entrar em forma.  Parecia um colégio militar; ordinário, marche!  Tínhamos que formar filas de dois em dois alunos, à distância de um braço, ou seja, cada aluno colocava sua mão direita no ombro do colega à sua frente, apenas para medir uma distância uniforme. Depois, cantávamos hinos pátrios.

          Mas o detalhe curioso, era com relação aos nomes das crianças.  Como havia Marias e Josés. Havia dezenas.  Para mim era enfadonho, à hora da chamada.  Todos os dias a Professora declinava o nome de cada alunos, pela ordem alfabética.  Quando chegava nas letras "M" e "J", parecia que não acabava mais; Maria José; presente...  Maria do Socorro: presente...  Maria Inês: presente...  Maria Aparecida: presente...  e assim por diante...

          Para o nome José, era a mesma coisa; José Benedito: presente... José Eustáquio: presente...  José Dirceu: presente...  José Carlos: presente...  José Maria: presente... José, José e José; havia tantos que nem me recordo de todos.  Claro que também havia alguns nomes raros, como por exemplo: Herminária, Deusdedit, Floriovaldo, Gervásio, etc, mas eram poucos.

          Tenho a impressão de que naquele tempo, dava-se preferência para os nomes de Maria e José, quiçá por uma influência religiosa, afinal, todos queriam ter o nome dos pais de Jesus.  Hoje, a preferência é para nomes diferentes, como por exemplo, Miguel Arcanjo, Dimitri, Sebastian, Patrick, Igor, Hérica, Amanda, etc.  Basta observar os nomes dos personagens das novelas da televisão. 

          Recentemente, "sem querer querendo", eu ouvia o papo de uma escurinha no interior de um salão de cabeleireiros;  a escurinha era manicure, e conversava com a freguesa dizendo: "eu dei o nome na minha filha de Milady.  O escrivão do Cartório não queria aceitar, dizendo que isso não era nome.  Eu disse a ele: é nome sim, eu ouvi na televisão e gostei tanto... Eu quero registrar minha filha com esse nome: é Milady".  Bem, não sei como o tal escrivão teria registrado a criança.  Talvez ele tenha aportuguesado esse nome para Mileide, atendendo ao desejo da mãe.

          Antigamente, principalmente nos tempos bíblicos, cada nome tinha um significado.  Como por exemplo: Jesus, que significa aquele que era o enviado de Deus;  Abraão, que significava pai da humanidade.  Não sei porque, mas cada nome parece ter certa influência na vida de cada um.  Os antigos acreditavam muito nisso.  A propósito, a minha avó dizia: "todo João é bobo e todo Pedro é louco...".  Naturalmente, que isto não deve ser levado muito a sério, mas a vovó tinha razão.  Em cada um destes nomes, há um "quê" de bobeira e de loucura.

          Certa vez, minha sobrinha queria batizar o seu filhinho recém nascido, de João Pedro.  Eu lembrei da minha avó, e disse a ela: - "Oh coitado! Não faça essa maldade com a criança"... Ela quis saber o porquê.  Eu pensei, pensei, e disse: bom, deixa prá lá...

          Sugiro, (não é nome japonês), que cada um procure saber um pouco do seu próprio nome através do seu horóscopo pessoal, e da numerologia do nome.  Caso conveniente, tratem de mudar a sua forma de expressão.  Aliás, é o que fazem os nossos artistas de televisão, não é mesmo?
"Meu eu morre a cada instante, e na transmutação se revela o eterno..." (Chuan-Tsé).

(Obs.- agora, uma foto da minha primeira comunhão no patio do Grupo Escolar Presidente Roosevelt, crianças do primeiro ano primário)

INCOERÊNCIAS

          Certa vez, um brasileiro perguntou a um português: - por que vocês, portugueses, quando falam, costumam dizer: "ora, pois, pois?"  O que significa essa expressão?
O português respondeu: - Ora, pois, pois, são maneiras de falar.  Eu também gostaria de saber por que vocês brasileiros, quando dizem: "vou te contar", na realidade não contam nada, mas quando dizem "nem te conto", aí sim, vocês contam tudo...

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          No exemplo acima, essas contradições na verdade, são expressões idiomáticas de uso já consagrado, porém nós, brasileiros, somos incoerentes em várias situações.  Por exemplo: nos casamentos, o padre pergunta aos noivos: prometem fidelidade um ao outro até que a morte (ou o divórcio) os separem?  Ambos respondem: SIM.  Aqui, o "parêntesis", está subentendido, claro, mas é o que mais acontece hoje em dia.

          Outro exemplo: por que, ao levantarmos da cama logo de manhã, vamos escovar os dentes mesmo antes do café, se a regra de higiene manda escovar os dentes logo após as refeições?  Quando isso acontece, não deixa de ser uma insensatez.

          As maiores incoerências, no entanto, são linguísticas.  Vícios de linguagem, erros de vários tipos. Na televisão, principalmente em novelas, é comum ouvirmos a expressão: "encarar de frente".
Ora, se já temos a nossa cara na frente, existe outra maneira de encarar que não seja de frente?  Teria como encarar de lado, de trás? Isso não somente é uma incoerência, uma redundância, mas também um vício de linguagem, que via de regra, deveria ser evitado.  Basta-nos apenas, "encarar".

          Em outra ocasião, perguntei a uma garota que morava próximo a um riacho, se ali havia peixes; pois o riacho era muito raso e cheio de pedras. (Tratava-se do rio que desce do Parque Nacional de Itatiaia, desde a cachoeira Véu de Noiva). A garota então me respondeu: - Sim, aqui tem peixes.  Está vendo aquele poço ali adiante?  É só jogar alguma comida na água, que logo vem aquele "enxame"... - Enxame de peixes! Quá-quá-quá...  Neste caso, mais que uma incoerência, acho que foi burrice mesmo, ou então, uma tremenda "batatada" por parte da garota.

          Mas não é raro a gente ouvir certas incoerências.  Quem ainda não ouviu dizer, por exemplo, "pé de jabuticabeira?"; "Entrar dentro da jaula?";  "Tinha chêgo?";  "Tinha trago?"... ...

          Quando tais gafes são cometidas por pessoas de pouca cultura, até que se compreende, mas o pior, é que muitas vezes, expressões incoerentes a gente ouve em programas de televisão, em discursos de alguns políticos contemporâneos, ou até mesmo em diálogos ocasionais de pessoas cultas.  Basta estarmos atentos, que sempre perceberemos algumas gafes linguísticas.

          Convenhamos, é preciso muita atenção para não comete-las, porque nossa língua portuguesa é muito rica, muito bonita, mas muito difícil também.  Para expressar-se corretamente, é preciso gostar do idioma.  É preciso aprimorar-se dia após dia.  Aliás, é o que também estou fazendo, no momento em que escrevo estas crônicas para o meu BLOG.
aula de português

CAUSOS

Prosas de Minas Gerais

O nome da criança
          Lá pras bandas de Minas Gerais, em determinada cidade do Sul de Minas, uma senhora chega ao Cartório para registrar seu filho recém nascido.  O homem do Cartório pergunta:

-  Como é o nome da criança?
-  É Gasogênio.
-  Como?
-  É Gasogênio.
-  Eu perguntei como é o nome da criança...
-  É Gasogênio.
-  É gasogênio?
-  É... é Gasogênio.
-  Mas isso não é nome que se dê a uma criança.
-  Mas é o nome que eu escolhi; é Gasogênio !
-  Olha, minha senhora, explique-se melhor, ou eu não poderei registrar o seu filho, o Gasogênio.
   De onde aa senhora tirou esse nome?
-  "Óia moço"... O pai dele se chama Egas.  E "Ogênio" é o avô dele. É Gasogênio.

          E foi então que o homem do Cartório entendeu que o nome correto da criança, seria, e como de fato foi registrado, o nascimento de Egas Eugênio...
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Epitáfio
          Outro "causo" interessante e verdadeiro, aconteceu lá pras bandas de Aiuruoca, num lugarejo chamado Lagoa. Este "causo", foi meu pai quem me contou.  Mas já faz muito tempo.  Ele visitava um cemitério, o qual acho que já nem existe mais.  Havia lá um túmulo, onde estava escrito à mão, sobre uma lápide: AQUI   JAZ  DANAVI  TORIANO  GUEIRA.
          Que nome esquisito, pensou ele.  Mau velho pai, guardou aquele nome na cabeça, e nas suas horas calmas, ficava "matutando" sobre aquilo, ou seja, sobre o estranho epitáfio.
"De pensar morreu um burro", diz um ditado caipira.  Mas foi assim, de tanto pensar, que o meu pai se deu conta do que ali estava escrito...
          Aquela inscrição, do tipo muito comum em quase todos os túmulos, na verdade, queria dizer:
" Aqui jaz, Dª  Ana Vitória Nogueira ".  Faltou apenas, uma grafia melhor, para que se pudesse ler corretamente, a fúnebre inscrição.
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De leve...
          Para finalizar, este caso também aconteceu lá nas Minas Gerais;
          ... ... Um homem, estava muito doente, e se encontrava acamado há vários dias.  Pressentindo que poderia morrer de uma hora para outra, chamou a esposa e falou meio pesaroso, e com certo embargo na voz:
          - Óia, muié... se acaso eu morrer, vê se ocê casa com o cumpadi Bastião; ele é um home muito bão, e...
Mas a mulher logo interveio:
          - Ah, não, com o cumpadi Bastião não, eu já tô di ôio no Cródio (Claudio)...
Sem comentários, até a próxima.
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Padre Michel

          O Padre Michel foi um grande mestre do Ginásio São Miguel de Passa Quatro/MG.  Ele era professor em várias matérias: Francês, Latim, Desenho, Canto Orfeônico (que depois foi abolido como matéria). O Pe. Michel entendia de música, e mantinha inclusive, um coral sob sua direção e regência, formado por alunas do INSA-Instituto Nossa Senhora Aparecida (Escola Normal dirigida por freiras), e rapazes do Ginásio São Miguel.  Na capela do Ginásio, ele tocava órgão (músicas sacras), durante as missas que eram frequentes naquele educandário católico.


          Além de Professor e músico, o Pe. Michel também era fotógrafo, e todas as fotos dos alunos do Ginásio (fotos 3 x 4) era ele quem tirava e processava (revelava) no laboratório fotográfico do Ginásio.  Além disso, tirava fotos de todos os eventos que aconteciam, envolvendo os alunos, tais como futebol, desfiles, formaturas, reuniões da U.E.C. (União Estudantil Católica).  Não bastando todas essas atividades, era também o tesoureiro do Ginásio, encarregado de receber as mensalidades dos alunos (internos e externos). **

          O Pe. Michel era de nacionalidade francesa, mas falava o português com perfeição, sem qualquer sotaque característico de pessoas estrangeiras.  Nas suas aulas de francês, ele falava da França com muito orgulho, como se fosse para ele, um país Maravilhoso, o melhor do mundo.  Ele exaltava as regiões da França, como L'Ile de France, La Normandie, La Bretagne, etc. Ele falava de todas as diferentes regiões e o que elas produziam, como vinhos, perfumes (os melhores do mundo), etc. Falava dos belos e bem cuidados jardins da França, do monumental aqueduto construído pelos antigos romanos, da Sorbonne Université de Paris, enfim, de muitas outras coisas que enalteciam o seu País.

          O Pe. Michel também dava aulas de religião, mas não era de mentalidade muito aberta como o Pe. Domingos.  Não.  Ele se prendia muito à Bíblia, e gostava de ensina-la aos seus alunos, sem entrar muito em assuntos polêmicos, ou mais aprofundados.

          Uma certa vez, ele ensinava o seguinte: era sobre a estória de Abel e Caim.  Pela minha lembrança, foi mais ou menos assim: ... ... naqueles tempos bíblicos, era costume oferecer a Deus sacrifícios, ou seja, um animal (ovelha) era abatido e ofertado a Deus, sobre uma fogueira ardente. As oferendas ou sacrifícios de Abel eram sempre aceitos por Deus, mas as oferendas de Caim, Deus não aceitava, e isso provocou ciúmes entre os irmãos, Caim e Abel, e que culminou com caim assassinando Abel.

          Eu me lembro que perguntei ao Pe. Michel, como é que eles (Caim e Abel) sabiam que Deus aceitava ou não aceitava esses sacrifícios ofertados, tendo em vista que Deus não era uma pessoa, mas sim, de natureza espiritual, como a gente já tinha aprendido.  Bem, o Pe. Michel me deu a seguinte explicação: quando um sacrifício (oferenda) era aceita por Deus, a fumaça da fogueira subia aos céus, e quando não era aceita, a fumaça se espalhava.

          Seria verdade? Onde é que estava escrito isso?  Mas na verdade, naquela ocasião, eu não tive mais argumentos diante dessa resposta. Aceitei, porque o Pe. Michel assim justificou.  Mas, se fosse hoje, eu diria, como aquele personagem da Escolinha do Professor Raimundo; "Há controvérsias..."  Mas deixa pra lá, isso já passou.  Estou apenas recordando um momento que ficou na minha lembrança.

          Mais tarde, o Pe. Michel assumiu a Paróquia de Passa Quatro, com a morte do Monsenhor Olavo Magalhães Caminha.  Pelas suas qualidades e versatilidade, pode-se reconhecer que de fato, o Pe. Michel era um homem inteligente, grande professor, e que deixou saudade em todos aqueles que foram seus alunos. 

          Deus faz maravilhas através de homens como o Pe. Michel, e por isso, ele será abençoado, onde ele estiver, o saudoso mestre, professor e amigo, o Pe. Michel.

          (** Uma observação: eu mencionei alunos internos e externos; isto porque naquele tempo era assim; esses Colégios, tanto o Ginásio São Miguel como o INSA, colégio de freiras, eram colégios particulares, e funcionavam como internatos, havia alunos de muitas cidades do Sul de Minas, como: Maria da Fé, Pedralva, Lavras, Virgínia, Bocaina de Minas, Minduri e tantas outras.  Não só de Minas, como também do Rio de Janeiro e Angra dos Reis.  Os alunos de Passa quatro, eram todos externos, porque moravam na cidade, e não precisavam de internato. E para controlar essa grande quantidade e variedade de alunos, haviam muitos regulamentos que eram rigorosamente observados pelos alunos.  Veja na foto abaixo, o Padre Michel com as alunas do INSA, e ao fundo alunos do Ginásio São Miguel, integrantes do Coral).
alunos e alunas do INSA e Ginásio São Miguel



     

PADRE DOMINGOS

Missa na Igreja Matriz          Revmo. Pe. Domingos, Diretor e Professor do Ginásio São Miguel, na cidade de Passa Quatro-MG.  O Padre Domingos, era carinhosamente chamado de "Domingão".  Ele não ligava.  Esse aumentativo do seu nome, era devido ao seu temperamento muito severo com seus alunos mais confiados ou desobedientes.  Ele era severo e bom camarada ao mesmo tempo.  Sabia levar a bom termo essas duas qualidades. 


          O Padre Domingos, era um grande professor de História.  História do Brasil e História Geral. Não usava livros para essa matéria.  Estava tudo na sua cabeça, como se esta fosse um computador.  Qualquer dúvida sobre essa matéria, era só perguntar ao Padre Domingos.

          Suas aulas pareciam um teatro, ou então um filme de cinema.  Parecia que a gente estava vendo as imagens.  Ele falava de uma forma eloquente, e gesticulava, prendendo a atenção de seus alunos.  Ao final de cada aula, os alunos estavam todos entusiasmados, repetindo gestos, e fazendo a saudação: Heil Hitler!  Isto, quando o Padre Domingos descrevia ou narrava os acontecimentos desta parte da história, dos horrores da 2ª Guerra Mundial.  Mas era muito legal.  Nunca houve professor igual.

          RELIGIÃO. O Padre Domingos não era professor só de História.  Ele também ensinava religião.  Mas, as suas aulas de religião, também eram diferentes.  Ele tinha uma mentalidade aberta, e não se prendia apenas aos dogmas que todos já conheciam. Não. Ele ensinava, por exemplo, que a terra tinha milhões e milhões de anos, ou como ele mesmo dizia: "Quaquilhões de anos, como diz o Tio  Patinhas". (Ele fazia uma alusão divertida ao personagem do desenho animado de Walt Disney).

          E dizia também, que o homem pode muito bem ter sido produto de uma evolução, como dizem os cientistas paleontólogos, em teoria.  A história bíblica de Adão e Eva, dizia, é apenas uma forma poética, alegórica, para dizer que Deus criou o homem.  Adão e Eva nunca existiram como personagens históricos, mas representam o caráter psicológico do homem desde o seu aparecimento na terra até hoje.  O Padre Domingos fazia uma comparação do homem pré-histórico, com o personagem "Brucutu", das estórias em quadrinhos daquela época, cujas revistinhas eram muito populares.

          Depois, mais seriamente, defendia os preceitos morais e bons costumes que deveriam ser observados em relação ao nosso próximo.  Ele dizia, que todo trabalho ou serviço, deve ser remunerado.  E, defendia a Igreja, quanto a algumas críticas que diziam ser o ministério dos padres, "um meio de vida".

          Ele dizia que a Bíblia poderia ser um simples romance, ou um tratado de psicologia do comportamento humano, e que a sua correta interpretação, continha maravilhosos ensinamentos  e respostas para todas as questões que afligem a humanidade.  E, que os padres tinham o dever de prestar esse serviço, de orientar aqueles que buscavam um sentido para a vida, através da religião.

          Às vezes, o Padre Domingos colocava uma questão comum da nossa vida, para discussão em plena sala de aula, pelos alunos.  Uma questão, por exemplo, envolvendo pessoas de nossa família.  O que pensavam sobre as regras de conduta, ou quando alguém abusava da confiança em relação às nossas irmãs solteiras.

          Cada um defendia suas idéias. Já não me lembro com detalhes sobre essas discussões, mas no final, o Padre Domingos apresentava o ponto de vista, não só dele próprio, mas segundo os preceitos morais vigentes, e segundo o que dizia a religião cristã.  O livre arbítrio do homem, é que decidiria seu próprio destino, dizia.

          Enfim, eram questões de uma profundidade muito grande, difícil às vezes de entender.  Mas era um ensinamento diferente de uma aula de religião comum.  Esse Padre Domingos tinha conhecimento e sabedoria.

          Que saudade! Hoje não há, entre seus ex-alunos, aquele capaz de dizer que não gostava de suas aulas. Mas ele continuará vivo e presente na memória de todos aqueles que o conheceram. O nosso querido e saudoso Padre Domingos.

(Observação: na foto acima, vemos O Pe. Domingos, Pe. Joaquim, Pe. Michel e Pe. Geraldo, todos professores do Ginásio São Miguel)



QUASE SEMINARISTA

          Em frente ao Ginásio São Miguel, em Passa Quatro-MG, havia um Seminário dos Padres da Congregação Belo Ramo. Posteriormente, as instalações desse Seminário foram utilizadas para dar lugar ao Colégio Técnico Industrial. O Seminário foi desativado, ou transferido talvez para outra cidade.


          Mas, quando esse Seminário funcionava como tal, era destinado a acolher aqueles estudantes que tivessem ou postulassem a "vocação sacerdotal".  E foi assim, que eu "quase" virei um seminarista, ou noviciado.  Mas há uma estória que preciso contar, pois não foi exatamente a minha vontade.

          Vamos à estória (verídica)... ... no Ginásio São Miguel, havia um padre que era muito meu amigo, e se chamava (ou se chama, pois não sei por onde anda esse padre, se ainda está vivo, Deus queira que sim).  Mas, como eu ia dizendo, esse padre era o Antonio Scarpa (família de Itanhandu), era professor de francês no Ginásio.

          Ele gostava muito de cinema, e no Ginásio São Miguel havia um projetor de filmes 16 mm. O padre Scarpa resolveu então, reativar o cinema, que se encontrava parado havia muito tempo.  Para isso, fez um convênio com uma distribuidora de filmes de aluguel.

          Essa distribuidora enviava então uma "batelada", ou seja, uma grande quantidade de catálogos de filmes, para que o Ginásio escolhesse e encomendasse os filmes desejados. Cada catálogo, era uma sinopse (resumo) do filme.  -  Era trabalhoso ler cada resumo de cada filme. Demandava tempo.  E eu ajudava o padre Scarpa nessa tarefa, pois eu também gostava de cinema, e para mim, não era trabalho nenhum, eu gostava de ficar sabendo da estória ou do enredo de cada filme

          A escolha do filme a ser encomendado para o Ginásio ficava a meu critério, e tinha que ser escolhido meticulosamente, porque havia uma restrição;  a sociedade  da época era muito conservadora, e um colégio de padres não podia exibir qualquer filme, por exemplo, se houvesse muitas cenas de beijos, não podia.  Tinha que ser rejeitado.

          Eu me lembro, que selecionei vários filmes, e um deles era o "Hatari", um filme com John Wayne, que contava uma aventura na África selvagem, muitos animais, etc. -  Bem, devido a essa minha dedicação, o Pe. Scarpa ficou meu amigo, e queria me ajudar de alguma forma.

          Ele insistia e insistia muito, para que eu ingressasse no Seminário anexo ao Ginásio, e me tornasse um seminarista.  A proposta dele era:  "você fica aqui neste Seminário por 2 anos, se preparando, e depois você vai para Belo Horizonte, e lá fica por 4 anos.  Após esse período, você poderá ir para outro país:  Itália ou França (ele próprio tinha ido para a França), ou outro país qualquer".

          Esses estudos eram todos gratuitos. Eu não teria nenhuma despesa.  Eu penso que o padre Scarpa queria me encher os olhos, com viagem para o exterior, por exemplo.  Mas, no fundo, eu não queria isso.  Eu nunca havia pensado em me tornar padre, não era minha vocação.

          Mas, devido a sua insistência, eu comecei a frequentar o Seminário, e estudar o que me mandavam, ou o que era preciso.  Mas eu não fui sozinho;  junto comigo ingressaram mais 5 alunos, comigo 6, mas, desses seis apenas um continuou seus estudos, e não sei se de fato chegou a tornar-se um padre.  No meu caso, quando eu estava perto de completar 3 meses, eu desisti, e abandonei o Seminário.  Eu não havia ingressado ali por minha livre vontade, mas sim, por livre e espontânea pressão do Pe. Scarpa.

          A vida, ou a frequência no Seminário, era uma chatice.  O Seminário era todo cercado de muro.  Por dentro, havia uma Capela, várias salas, e um corredor comprido formando um quadrado contornando o pátio central, gramado, onde saltitavam coelhos de orelhas compridas.  Eu tinha que ficar todos os dias andando, por esse corredor, lemdo um livro, que nada mais era, do que o Novo Testamento. 

          A orientação, era de que eu praticamente teria que decorar esse livro, pois quando chegasse o momento (da minha transferência para Belo Horizonte), eu teria que estar muito bem preparado.  Confessar e assistir às missas, era obrigatório.  Justamente o que culminou com a minha desistência do Seminário, foi o ato da confissão, que era assim frente a frente com o padre confessor.

          Havia ali, nesse Seminário, um padre já meio idoso, que se chamava Pe. Eduardo (acho que o seu sobrenome era "Ivel", de origem estrangeira, francês, não sei ao certo).  Bem, eu fui me confessar com o padre Eduardo. Mas eu não sabia que pecado contar, pois eu passava a maior parte do tempo, ou no Ginásio São Miguel, ou no interior desse Seminário, na parte da tarde.  Dormir, eu dormia em casa mesmo.  Eu estava numa fase de treinamento.

          Bem, mas como eu não sabia que pecado contar para esse padre Eduardo, eu "inventava" pecados que eu não havia cometido, ou seja, pecadinhos bobos, como, "eu fui ao cinema escondido"..." Quando eu disse isso, o bom e velho padre achou uma graça tremenda, e começou a rir, assim como faz o Papai Noel: Ho, Ho, Ho!  Ele começou a rir, e eu fiquei sério, me sentindo, assim como se diz: "pê da vida", porque ele estava rindo de mim.

          Então eu disse ao velho padre: - "Sabe, seu padre", o meu maior pecado é que eu não acredito nada do que estou aprendendo aqui..."  Nossa!  Desta vez foi o padre que ficou sério, e me mandou ir para a Capela, ajoelhar e fazer um "exame de consciência" (praxe obrigatória antes da confissão), e depois disso, voltar para me confessar.

          Saí dali, daquela sala, fui até o portão de saída do Seminário, e... "me mandei", nunca mais quis saber de "virar padre".

          Mas, algum tempo depois, eu me arrependi de ter respondido daquela maneira para o bondoso e velho padre Eduardo, porque na verdade, eu tinha uma boa formação religiosa até aquele momento.  Mas, o que aconteceu, foi um momento de rebeldia de minha parte, porque eu não estava me sentindo bem ali, pressionado a aceitar tanta coisa que era contra minha vontade.

          Não sei bem como explicar, mas é verdade que naquele momento sim, eu cometi um pecado de verdade, por pensamento palavras e obras.  Por minha culpa, minha máxima culpa.  Até hoje me arrependo.  Mas, eu só posso pedir a Deus que me perdoe.  Arrependido estou. 

Belo Ramo
       



Lingua Portuguesa

Anserino cálamo
          Hoje em dia, qualquer criança em idade escolar, diz tranquilamente que estuda matérias como Português, Matemática (e outras).  Mas, não foi sempre assim, com relação aos nomes das matérias. No meu tempo de escola primária, no Grupo Escolar Presidente Roosevelt, lá em Passa Quatro-MG, eu estudava Linguagem e Aritmética, e havia também um caderno de pontos.  Esses nomes significavam Português, e Matemática, e pontos de História e Ciências. 


          Estudava-se também Religião, como matéria.  Depois, mais adiante, no 3º e 4º ano primário, a matéria "Linguagem" passou a chamar-se "Língua Pátria".  Depois do primário, havia um Curso de Admissão ao Ginásio, que tinha duração de um ano.  Era uma espécie de curso vestibular para admissão ao Ginásio.

          Bem, estas são apenas algumas lembranças nostálgicas. Mas agora, nesta breve reflexão, eu quero apenas realçar algumas questões da nossa querida Língua Portuguesa.

          No Ginásio São Miguel, colégio de padres betharramitas de Passa Quatro, tivemos vários professores de Português, ou da nossa "Língua Pátria" (nome bonito esse).  Mas, uma lembrança marcante, foi a do Padre Joaquim Soares, professor de Português.  Algumas pinceladas de suas aulas merecem ser lembradas:

          1) Uma frase: "passe-me o anserino cálamo e o etiópico licor".  Essa frase, segundo o nosso querido Pe. Joaquim, foi dita por Rui Barbosa (um "crânio" da língua portuguesa).  E o significado na linguagem atual, seria: "passe-me a caneta e a tinta para escrever".  Explicação: na época de Rui Barbosa, escrevia-se com uma caneta feita de pena de ganso, e necessitava de um vidro de tinta para molhar a pena e escrever.  A tinta era importada da Etiópia, e daí, a expressão "Etiópico Licor".  Anserino, vem de ganso, e cálamo significa pena de ganso, ou seja, anserino cálamo, ou caneta de pena de ganso.

          2) Agora, uma estória:  ... ... um homem, aproxima-se de um caudaloso rio, onde está um velho muito humilde, com seu cãozinho e sua canoa, pronta para cruzar o rio à outra margem.  O homem, recém chegado, cheio de si, e com ares de superioridade, fala o seguinte:"Quanto queres, para
me transportar deste polo ao outro extremo?" Mas o velho da canoa não entendeu nada do que aquele arrogante sujeito dissera.  E respondeu simplesmente: - "o cachorrinho não morde não senhor"... e entrou na canoa com seu cãozinho e foi se afastando.  O sujeito arrogante vociferou: - "Oh! Mísero barqueiro, dar-te-ei uma porrada no alto da sinagoga, reduzirei tuas massas cefálicas e o enviarei às regiões cadavéricas"... O canoeiro outra vez nada entendeu do que o sujeito acabara de dizer, e continuou tranquilo a sua travessia do rio.

          Bem, esses dois comentários é só para enfatizar que a nossa língua portuguesa é muito rica, e as expressões usadas pelos personagens citados (Rui Barbosa e o sujeito arrogante), são expressões verdadeiras, apesar de não estarem mais em uso.  Elas existem, e poderão ser usadas, caso se façam necessárias.

          Muitas outras expressões existem, não tão arcaicas talvez, mas modernas, e que a gente às vezes desconhece.  Os advogados são mestres na utilização de palavras muito bem empregadas e bastante expressivas, e também expressões em Latim.

          A propósito, em 2015 o nosso então político Michel Temer mandou uma carta para a Dilma Roussef, iniciando com uma expressão em latim:  "verba volant, scripta manent"  que significa: "As palavras voam, os escritos permanecem".

          Mas, voltando ao Padre Joaquim, certa vez ele mandou que os alunos fizessem uma redação com o tema "Um dia aziago".  Os alunos tiveram que descobrir o significado dessa palavra, "aziago", e fazer a redação.  Eu fiz a minha redação, da qual me lembro até hoje, e descobri naquela época, que "aziago" significava mau agouro, um dia de azar.

          Outra vez, esse mesmo professor, nos deu um texto onde aparecia a expressão "sói acontecer", e naquela época, essa expressão também nos era desconhecida, mas ele nos ensinou que se tratava de  uma expressão muito simples, que quer dizer: "costuma acontecer".  Hoje eu sei, que essa expressão às vezes é utilizada por advogados na redação de seus processos.

          Temos que amar o nosso vernáculo, para que possamos descobrir muitas e muitas palavras e expressões que nos poderão ser úteis.  Amo a língua portuguesa.

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