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CANÇÃO DE UM HOMEM SÓ


Canção do Vaqueiro

          Realizou-se em Resende-RJ, em 1975, o Primeiro (e único até hoje), Festival da Música Sertaneja.  Eu sempre gostei desse gênero musical, sempre tive amigos violeiros e cantadores. Cito alguns, que foram meus amigos, de uma época já passada: Nonô e Resende,  Salles e Remanso,  Pantanal e Tocantins, Julinho (O Trovador Mineiro) e Renato Baiano.


          A década de 70, foi uma época de ouro da nossa liberdade musical.  Tanto a MPB, músicas internacionais ou sertanejas, prosperaram em suas criações e lançamentos.  A boa música fica eternizada, haja visto que hoje, nesta era moderna (2018), buscamos avidamente por antigos sucessos de todos os tipos.  Portanto, foi nesse clima de outrora, que até hoje eu me sinto feliz por ter vivido e participado de tais eventos, e sem outras pretensões, a não ser o gosto por aquele "happening".

          Mas, voltando ao festival de Resende, eu também resolvi participar, e assim, "bolei" uma letra e música intitulada "Canção de um homem só",  para que um amigo violeiro chamado Renato (vulgo Baiano), fizesse sua apresentação no festival (vejam a sua foto, juntamente com sua esposa e filhos no dia desse festival).

          O Renatinho (era assim que eu o chamava), conseguiu ser premiado em 3º lugar na sua apresentação.  Me senti feliz e satisfeito, pois na verdade, eu não esperava que a minha música fosse vencedora em qualquer pontuação, entre tantos outros concorrentes.

          Posteriormente, outro amigo, violeiro e cantador, chamado Júlio Batista, me pediu permissão para que ele gravasse essa música em disco de vinil, numa produção independente em parceria com outros grupos de violeiros.  Claro que dei permissão, pois esse rapaz também era meu amigo, e eu não tinha qualquer fama nem pretensões nesse sentido. 

          Mas, o Júlio mudou o título da música para "Canção do Vaqueiro" (achou que ficava melhor, e queria dividir uma parceria), e assim, gravou um disco juntamente com uma "trupe" sertaneja: COMPÁDRE SALLES E SEUS VIOLEIROS. (Vejam, na foto abaixo):
Compadre Salles
          Para finalizar, a letra da música (infelizmente não disponho de vídeo ou áudio dessa apresentação).

CANÇÃO DE UM HOMEM SÓ
(letra e música de Guilherme Köhn)

Sozinho em meu rancho,
começo a pensar,
pego a viola
e me ponho a cantar.

São versos que faço
falando de amor,
são os sentimentos
de um trovador.

As recordações
me fazem chorar,
não tenho ninguém,
eu vivo a sonhar.

Amor entristece, 
o meu coração
o que me consola
é a minha canção.

E nesta lembrança,
recordo o passado, 
na vaga esperança
de ser consolado.

E nesta lembrança,
buscando o passado
eu guardo a esperança
de alguém a meu lado.

       ... /// ...

PAGANDO COFRINHO


Calça de cós baixo

          Vou contar um caso verdade. A estória, é sobre uma menina de Resende-RJ.  Só não vou revelar o nome dessa fulana, pois isto não seria muito ético.  Vou chama-la apenas de "menina". Eu vou contar, foi assim:


          ... Eu trabalhava em uma pequena fábrica de filtros de combustível para postos de gasolina. Na verdade, era uma fabriqueta, com poucos trabalhadores.  A fábrica tinha 2 pavimentos e um pátio frontal muito bonito, com algumas plantas e alguns holofotes para iluminação noturna.  Essa parte frontal toda enfeitada, servia de entrada tanto para os trabalhadores (produção e escritório), como também para os clientes ou visitantes. Nos fundos da fábrica, havia um depósito de materiais.

          No andar térreo, funcionava a oficina de produção dos filtros, e no andar superior, funcionava o escritório e o setor de vendas.  No setor de produção (andar térreo), apenas homens trabalhavam (cerca de 30 homens, mais ou menos).  E no andar superior, eu trabalhava no setor financeiro, juntamente com seis a oito meninas moderadamente.  Dá para imaginar que essa fábrica era bem modesta, ou seja, era de pequeno porte.

          Entre as meninas, quatro ou cinco eram as mais competentes e profissionais, e portanto, contavam com uma certa estabilidade e com tempo de casa.  Entre as demais, havia uma rotatividade, pois eram apenas auxiliares de conveniência para trabalhos diversos, donde certa vez foi admitida uma "menina", a qual protagoniza o tema da nossa estória.

          Essa "menina",  era de família pobre, mas ela gostava de mostrar-se moderninha, ou "pra-frentex", como se falava na gíria da época.  Coisa de gente jovem.  E nessa fábrica, à hora do almoço, a rapaziada, operários do setor de produção, ficavam descansando, sentados no lindo pátio frontal da fábrica, e observando as meninas que também saiam do escritório nesse intervalo para o almoço.

          A "menina" (a moderninha), usava sempre uma calça Jeans detonada de cós baixo. Parece que ela tinha prazer em deixar a barriga em evidência e o umbigo de fora.  Mas, a sua calça jeans, além de deixar a barriguinha de fora, permitia entrever também, o detalhe da calcinha íntima que estava usando.  Os operários da fábrica ficavam só observando...

          Daí, surgiu uma brincadeira típica da "peãozada";  o jogo das apostas;  todos os dias, apostavam na cor da calcinha que a "menina" estaria usando: - hoje a calcinha é branca, apostava um dos peões;  aposto que é vermelha de bolinhas brancas, apostava o outro; - pois eu aposto que a calcinha é preta... e seguiam-se as apostas... (OBSERVAÇÃO: creio que essa "menina" não tinha uma variedade muito grande desta sua peça de roupa íntima, porque as cores que ela usava se repetiam regularmente). 

          A gozação da rapaziada alcançou tal ousadia sonora (em alto e bom som), que a "menina" percebeu o escárnio da malandragem.  Mas, adivinhem só, o que fez a menina para esconder a calcinha que por vezes deixava aparecer, mesmo que fosse um pedacinho apenas, pra fora da calça jeans de cintura baixa... - pois sim: ao invés de suspender a cintura da calça, ela abaixava a calcinha, de modo a não aparecer acima da cintura. 

          Porém, a força do destino às vezes é implacável: a calcinha não mais aparecia, mas em vez disso, aparecia o "cofrinho" (lugar onde começa a bunda).  Não deu outra: a "menina" ganhou o apelido de "Banco Central", para a diversão da raça (peonada) que não perdoa o mal feito. 

"de tecido mal feito, nunca se faz um vestido perfeito!"
calça Saint Tropez

O CAVALO E O MOSQUITO


Tupi

          Um mosquito, que havia pousado na cabeça de um cavalo, vendo que este fazia muito esforço para puxar um carro muito pesado, levantou-se (voando), e lhe disse: - "Pobrezinho, eu não sabia que já estavas fatigado, mas agora que estás livre do meu peso, certamente poderás puxar melhor essa carroça"...


Moral da estória:
          Há muitas pessoas que, semelhante a essa mosca, consideram-se muito importantes, não passando de imbecis e orgulhosos.

Vou contar um caso verdade:

          Eu, pessoalmente, vivi episódios que ilustram perfeitamente essa parábola, "O Cavalo e o Mosquito".  Eu conheci esse mosquito estulto.  Não vou revelar o nome dele, mas vou chama-lo pelo codinome de "São Bento".  Foi assim:

          ... A Empresa onde eu trabalhava, precisava contratar alguém para auxiliar em algumas tarefas no setor financeiro.  O vulgo !São Bento", apresentou-se como candidato a essa vaga.  Ele exibiu seu currículo, com mais ou menos meia dúzia de páginas, descrevendo suas experiências e suas qualidades.

          En breve exemplo, ele elencava no seu currículo o seguinte:
  • Havia trabalhado na gerência de uma agência bancária;
  • Possuía curso superior de Administração de Empresas;
  • Entendia de análises financeiras, análise de créditos, etc, etc, etc...
  • Depósitos e saques (cheques);
  • Restituição de imposto de renda;
  • Entendia de um montão de coisas (pura ostentação), que nem me lembro mais.
          O fausto do seu currículo,  era muito superior ao que a empresa necessitava, mas mesmo assim, ele conseguiu ser admitido.  Para inicio de conversa, o "São Bento" não tinha uma sala própria, objeto de sua ambição;  ele ocupava uma mesa qualquer do seu setor.  Sendo assim, ele simplesmente "comia pelas beiradas", ou seja, ia avançando aos pouquinhos, disfarçadamente, de modo que ninguém percebesse suas intensões.

          Sem ter muito o que fazer, quase todos os dias, o "São Bento" literalmente se apoderava da minha sala, da Contabilidade, onde eu era o responsável pela supervisão de mais dois contadores auxiliares.  Ele se apoderava também da mesa onde ficava o meu PC, e "fingia" que estava trabalhando em algum projeto  "sigiloso" da empresa;  e quando ele terminava sua digitação, o seu hipotético trabalho era salvo em um disquete (ainda não se usava pendrive ou cartão de memória nessa época).

          O "São Bento" naquele momento, dando-se ares de importância, retirava o seu disquete do PC, e colocava-o no bolso da camisa com todo cuidado, para ninguém ver.  No PC, não ficava qualquer vestígio do seu "trabalho".  No entanto, seus disquetes nunca serviram para nada na Empresa.  Nunca ninguém soube de qualquer serventia para os mesmos. Seu trabalho, era literalmente uma pantomima!

          Sobre a minha mesa, bem próximo dele, o telefone tocava: trrriiimmm, trrriiimmm... o "São Bento" atendia pomposamente a ligação: - "administração, pois não"... (Olha aí o São Bento "comendo pelas beiradas";  bisbilhotando assuntos alheios, e se autopromovendo)...

          Esse mosquitão espaçoso, também vivia "lambendo as botas" do gerente financeiro que o contratara, sabendo que este gozava de certo prestígio junto ao dono da Empresa.  Em outras palavras, ele vivia "puxando o saco" do prestigioso gerente.  Mas, essa Empresa onde trabalhávamos, dava sinais de que estava com sérias dificuldades financeiras.  E assim, num certo dia, no refeitório da Empresa, eu ouvi uma conversa do São Bento com o gerente financeiro:

          O "São Bento" dizia:  -  "Imagine você, que esta noite eu tive um sonho;  sabe, aquele "insight" (- clareza súbita da mente), ... pois é, no sonho, eu descobri uma solução fantástica que resolveria todos os problemas financeiros da Empresa; - mas, quando eu acordei, não me lembrei mais qual foi a solução que eu havia encontrado no sonho... que lástima, mas foi uma inspiração divina..."  Ora, ora, pensei cá comigo: "isso é prosopopéia flácida para acalentar bovino" (conversa mole para boi dormir).

          Na Empresa, havia o refeitório do pessoal, e havia um refeitório reservado apenas para os diretores (donos da Empresa), pois eles gostavam de privacidade.  Mas, por duas ou três vezes, um dos diretores me convidou para almoçar com ele nesse refeitório privativo.  Além do almoço, o momento era oportuno para assuntos igualmente reservados.  O São Bento, que a tudo sempre observava, morria de inveja, pois casualmente fiquei sabendo que ele havia comentado com um subalterno:  - "Eu é que deveria almoçar com o Diretor, afinal, o meu cargo é mais importante do que a Contabilidade".

          Bem, eu fiquei sabendo disso, por parte de um colega de trabalho que me alertou sobre o caradurismo do "São Bento" (na verdade uma fofoca), mas eu respondi apenas com um sorriso, afinal, o egocentrismo era uma atitude infeliz por parte do São Bento;  eu não sofro desse mal, não tenho o complexo desse mosquito abusado.  "Quando um homem não consegue rir de si mesmo, é hora de outros rirem dele: ka, ka, ka..."

          Esta narrativa é apenas um resumo do que acontecia na Empresa, mas acho que dá para imaginar o clima e a "deglutição de batráquios" (ato de engolir sapos) que eu enfrentava no meu trabalho.  Esta, foi a minha experiência pessoal, e posso afirmar que não descrevi nem a metade do que se passava na empresa.  Mas eu sei também, que a minha estória não é a única, pois essas moscas irritantes sempre existiram e continuarão a existir para atormentar àquelas pessoas que trabalham sem querer "ferrar" ninguém.  Essa prática existe na maioria das empresas, sejam grandes ou pequenas.

          O trabalho é sempre uma peleja, uma rivalidade, por isso nesse ambiente, mantenha-se alerta e a boca fechada, ou irá sempre engolir algumas moscas (ou sapos).

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