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O CAVALO E O MOSQUITO


Tupi

          Um mosquito, que havia pousado na cabeça de um cavalo, vendo que este fazia muito esforço para puxar um carro muito pesado, levantou-se (voando), e lhe disse: - "Pobrezinho, eu não sabia que já estavas fatigado, mas agora que estás livre do meu peso, certamente poderás puxar melhor essa carroça"...


Moral da estória:
          Há muitas pessoas que, semelhante a essa mosca, consideram-se muito importantes, não passando de imbecis e orgulhosos.

Vou contar um caso verdade:

          Eu, pessoalmente, vivi episódios que ilustram perfeitamente essa parábola, "O Cavalo e o Mosquito".  Eu conheci esse mosquito estulto.  Não vou revelar o nome dele, mas vou chama-lo pelo codinome de "São Bento".  Foi assim:

          ... A Empresa onde eu trabalhava, precisava contratar alguém para auxiliar em algumas tarefas no setor financeiro.  O vulgo !São Bento", apresentou-se como candidato a essa vaga.  Ele exibiu seu currículo, com mais ou menos meia dúzia de páginas, descrevendo suas experiências e suas qualidades.

          En breve exemplo, ele elencava no seu currículo o seguinte:
  • Havia trabalhado na gerência de uma agência bancária;
  • Possuía curso superior de Administração de Empresas;
  • Entendia de análises financeiras, análise de créditos, etc, etc, etc...
  • Depósitos e saques (cheques);
  • Restituição de imposto de renda;
  • Entendia de um montão de coisas (pura ostentação), que nem me lembro mais.
          O fausto do seu currículo,  era muito superior ao que a empresa necessitava, mas mesmo assim, ele conseguiu ser admitido.  Para inicio de conversa, o "São Bento" não tinha uma sala própria, objeto de sua ambição;  ele ocupava uma mesa qualquer do seu setor.  Sendo assim, ele simplesmente "comia pelas beiradas", ou seja, ia avançando aos pouquinhos, disfarçadamente, de modo que ninguém percebesse suas intensões.

          Sem ter muito o que fazer, quase todos os dias, o "São Bento" literalmente se apoderava da minha sala, da Contabilidade, onde eu era o responsável pela supervisão de mais dois contadores auxiliares.  Ele se apoderava também da mesa onde ficava o meu PC, e "fingia" que estava trabalhando em algum projeto  "sigiloso" da empresa;  e quando ele terminava sua digitação, o seu hipotético trabalho era salvo em um disquete (ainda não se usava pendrive ou cartão de memória nessa época).

          O "São Bento" naquele momento, dando-se ares de importância, retirava o seu disquete do PC, e colocava-o no bolso da camisa com todo cuidado, para ninguém ver.  No PC, não ficava qualquer vestígio do seu "trabalho".  No entanto, seus disquetes nunca serviram para nada na Empresa.  Nunca ninguém soube de qualquer serventia para os mesmos. Seu trabalho, era literalmente uma pantomima!

          Sobre a minha mesa, bem próximo dele, o telefone tocava: trrriiimmm, trrriiimmm... o "São Bento" atendia pomposamente a ligação: - "administração, pois não"... (Olha aí o São Bento "comendo pelas beiradas";  bisbilhotando assuntos alheios, e se autopromovendo)...

          Esse mosquitão espaçoso, também vivia "lambendo as botas" do gerente financeiro que o contratara, sabendo que este gozava de certo prestígio junto ao dono da Empresa.  Em outras palavras, ele vivia "puxando o saco" do prestigioso gerente.  Mas, essa Empresa onde trabalhávamos, dava sinais de que estava com sérias dificuldades financeiras.  E assim, num certo dia, no refeitório da Empresa, eu ouvi uma conversa do São Bento com o gerente financeiro:

          O "São Bento" dizia:  -  "Imagine você, que esta noite eu tive um sonho;  sabe, aquele "insight" (- clareza súbita da mente), ... pois é, no sonho, eu descobri uma solução fantástica que resolveria todos os problemas financeiros da Empresa; - mas, quando eu acordei, não me lembrei mais qual foi a solução que eu havia encontrado no sonho... que lástima, mas foi uma inspiração divina..."  Ora, ora, pensei cá comigo: "isso é prosopopéia flácida para acalentar bovino" (conversa mole para boi dormir).

          Na Empresa, havia o refeitório do pessoal, e havia um refeitório reservado apenas para os diretores (donos da Empresa), pois eles gostavam de privacidade.  Mas, por duas ou três vezes, um dos diretores me convidou para almoçar com ele nesse refeitório privativo.  Além do almoço, o momento era oportuno para assuntos igualmente reservados.  O São Bento, que a tudo sempre observava, morria de inveja, pois casualmente fiquei sabendo que ele havia comentado com um subalterno:  - "Eu é que deveria almoçar com o Diretor, afinal, o meu cargo é mais importante do que a Contabilidade".

          Bem, eu fiquei sabendo disso, por parte de um colega de trabalho que me alertou sobre o caradurismo do "São Bento" (na verdade uma fofoca), mas eu respondi apenas com um sorriso, afinal, o egocentrismo era uma atitude infeliz por parte do São Bento;  eu não sofro desse mal, não tenho o complexo desse mosquito abusado.  "Quando um homem não consegue rir de si mesmo, é hora de outros rirem dele: ka, ka, ka..."

          Esta narrativa é apenas um resumo do que acontecia na Empresa, mas acho que dá para imaginar o clima e a "deglutição de batráquios" (ato de engolir sapos) que eu enfrentava no meu trabalho.  Esta, foi a minha experiência pessoal, e posso afirmar que não descrevi nem a metade do que se passava na empresa.  Mas eu sei também, que a minha estória não é a única, pois essas moscas irritantes sempre existiram e continuarão a existir para atormentar àquelas pessoas que trabalham sem querer "ferrar" ninguém.  Essa prática existe na maioria das empresas, sejam grandes ou pequenas.

          O trabalho é sempre uma peleja, uma rivalidade, por isso nesse ambiente, mantenha-se alerta e a boca fechada, ou irá sempre engolir algumas moscas (ou sapos).

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