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PREVISÃO DO TEMPO

PREVISÕES DO TEMPO?
          Antigamente, era fácil fazer previsões do tempo.  Hoje porém, está um pouco mais difícil, mas nada impossível.  Em Minas Gerais, na minha terra natal, os mais antigos (meu pai e seus amigos) me ensinaram os sinais do tempo.  São muitos sinais, infelizmente quase todos esquecidos, mas ainda me lembro de alguns.  E podem acreditar, que realmente funcionam. 


          São sinais de chuva:
          - "Quando as rãs coaxam muito, estão chamando chuva..."
          - "Se o burro mexe muito com a orelha, chove; mas se não mexe, não chove..."
          - "Gato lambendo a pata e lavando atrás das orelhas com a mesma, é chuva na certa..."
          - "Lua com circo (círculo) em volta, pode contar que vem chuva..."
          - "Mosquito voando e grudando muito, é chuva que vem..."
          - "Dor nas juntas pode ser sinal de chuva..."
          - "João de Barro conhece o tempo como ninguém.  Quando ele se recolhe na sua casinha, é 
             sinal que vai chover..."
          - Formigueiro agitado, também é sinal de chuva..."

          Da mesma forma que estes sinais são indicativos de chuva, em tempo de estiagem, também se pode fazer algumas simpatias para atrair a chuva, como por exemplo:
"Buscar água no rio numa tigela e despejar na Santa Cruz na beira da estrada, e depois ajoelhar e rezar, é só pedir que a chuva vem..."
"Cantar desafinado, é chamar chuva..."

          Sinais de bom tempo:
          - Neblina que baixa, é sol que racha..."
          - Não ha domingo sem missa, nem sábado sem sol, e nem segunda sem preguiça.
          - Urubu em cima do telhado abrindo as asas, está pedindo para fazer bom tempo.
Também se pode pedir para Santa Clara, da seguinte forma:
          - Santa Clara faça sol, pra enxugar o meu lençol...

          Acreditem ou não, mas antigamente era tudo muito simples. Como a própria vida na roça. Vida de caipira. Vida boa. Através de sinais, bastava observa-los e fazer uma previsão do tempo.

          Hoje, todavia, a Mãe Natureza parece que anda meio revoltada.  Um certo ano, por volta de 2005, tivemos algumas tragédias como aquela onda gigante que apareceu lá na Ásia, o "tsunami", de consequências devastadoras; e notícias de outros fenômenos, como terremotos, chuvas e enchentes praticamente em todas as partes do mundo.  Nestes casos, acho que não há caipira que consiga prever estes acontecimentos através de sinais.

          Meu velho pai (que Deus o tenha) também dizia: "tempo, espingarda véia, bunda de criança, num merece confiança".,..

FOGÃO A LENHA



NOS TEMPOS DO FOGÃO A LENHA
          Certamente já vimos por aí, alguns restaurantes que anunciam: "comida em fogão a lenha".  Tais anúncios sugerem, que a comida preparada em fogão a lenha é mais saborosa.  Sem dúvida, é verdade.  É um aspecto da culinária que muita gente não conhece com propriedade, porque o fogão a lenha tornou-se uma raridade.  Mas, houve um tempo, que esse tipo de fogão era comum.  Em toda casa havia um fogão a lenha.  Bons tempos que não voltam mais.


          Na minha cidadezinha, lá em Minas Gerais, e certamente em quase todos os lugares, a lenha vinha da roça para a cidade, em lombos de burros.  Os chamados cargueiros.  Três cargueiros, representavam um metro de lenha, ou seja, o metro cúbico.  A lenha era cortada em toras de um metro de comprimento, e depois empilhadas entre escoras nessa mesma medida, formando cubos de 1 x 1 m.  Em seguida os burros cargueiros eram carregados, e a tropa levada para a cidade. 

          Ainda me lembro como se fosse hoje, da minha mãe negociando com o tropeiro, o caboclo da roça, vendedor de lenha:
           - Compra lenha, dona?
          - Não, hoje não, muito obrigado.
          - Ah... Compra sim dona, eu vendo barato...
          - Não, não quero.  Da última vez, você me vendeu uma lenha verde, que não queimava.
          - Não, dona, essa lenha aqui, eu garanto.  Essa queima qui nem pórva (pólvora).
Minha mãe ironizava:
          - Ah, mas se queima que nem pórva, eu também não quero.  Vai queimar muito depressa e 
            acaba logo, ah, ah, ah!
          - Ah, compra, dona.  Essa lenha é boa. É lá da serra dos Lamin.  Eu vim de longe. Eu trusse
            treis metro e só tem dois de resto. Eu faço um precinho camarada.

          Por fim, minha mãe acabava comprando a lenha do sujeito.  De tanto ele insistir e baixar o preço pedido inicialmente:
          - Está bem, por esse preço então eu compro. Pode aliviar os animais do seu peso no lombo.
          - Aonde é que eu pincho (jogo) a lenha?
          - Pincha (joga) aí mesmo na rua, que depois eu mando meu filho recolher pro quintal.
          O grande problema do fogão a lenha, era a fumaça.  As panelas ficavam todas pretas, enfumaçadas. Para limpar as panelas, usava-se areia.  Minha mãe sempre me pedia para buscar areia na beira do rio.  "Prá ariá panela", como se dizia. Também se usava um sabão feito em casa; o sabão de cinza, feito com as cinzas produzidas pelo fogão. 

          Estas e outras, são minhas (ou nossas) lembranças, que aos poucos vão desaparecendo no decurso implacável do tempo que a tudo consume...
   

LEMBRANÇAS DE NATAL

Nascimento do menino Jesus          ... Outra vez é Natal.  A data mais bela da cristandade.  Parece que o ar está impregnado de uma doce mensagem de amor e de ternura, e a cidade veste-se para a festa mais linda do ano...


          Lembro-me do Natal na minha infância. Hoje, outras pessoas estarão ao meu lado, mas os cânticos de Natal serão os mesmos.  Na minha infância, tudo era magia; quanta coisa era possível. Meus brinquedos eram simples, mas a minha imaginação tudo transformava.  Minha mente infantil projetava imagens de tal natureza, que nem os poetas conseguem transmitir.  Apesar de criança, quanta coisa para mim era possível; o meu universo permitia a entrada de gatos, cachorros, adultos... 

          E eu entendia-os com uma clareza, que sinceramente esse entendimento hoje me escapa: um monte de terra para mim se transformava em um castelo; uma caixa de papelão, se transformava em um carro, do último tipo... Era um mundo mágico, onde até o tempo brincava feliz comigo.

          Hoje, eu já não sei mais conversar com um gato, um cachorro, ou com um super-herói imaginário, como eu sabia fazer naquele tempo.  Papai Noel, aquele velhinho de roupa vermelha, barbas brancas... Ele nunca me trouxe o brinquedo pretendido, mas também nunca me decepcionou, e eu me contentava com o seu presente, por mais simples que fosse.  Talvez o bom velhinho estivesse sobrecarregado de pedidos, e não pudesse mesmo contentar a todos.

          Hoje, resta-me apenas a saudade dos velhos tempos, e as chamas ardentes do passado que ainda aquecem a minha alma.  Há também um inverno de neves brancas em meus cabelos grisalhos, e só então percebo que tanto tempo se passou. 

          Nesta noite de Natal, e nas próximas que virão, quando a mensagem dos sinos se fizer ouvir, eu sempre estarei com minhas lembranças, guardando aquele retrato nostálgico da minha infância, e com certeza, um sentimento oculto no coração.  Um sentimento que eu não poderei traduzir com palavras.  Mas eu terei também muitas pessoas ao meu lado, me dizendo:
          - Felicidades !.,.. Que o próximo ano seja um ano de venturas, de alegrias... de satisfações...  FELIZ NATAL ! 

PESCADOR AMADOR



                Pescador profissional e pescador amador.  Alguém sabe a diferença?  Pois vamos desenhar aqui, em palavras, o perfil de cada um.


          O pescador profissional, não é aquele pescador moderno, que usa equipamentos e apetrechos sofisticados.  Não.  Muito pelo contrário; o profissional é aquele "caboclo" humilde, muito pobre, que vive num lugarejo qualquer, sem muitos recursos, morando numa choupana com a mulher e filhos, e quase sempre tendo por companhia um cãozinho magro, apelidado de "passa-fome", porque não têm comida nem para eles mesmos.

          Mas a família vive como pode.  Com suas rusgas, desilusões, e por vezes instantes de contentamento.  O próprio pescador tece a sua rede, ou providencia-lhe alguns remendos.

          O quadro que estamos descrevendo, é muito típico do Nordeste do Brasil, daqueles pescadores que se aventuram no mar, em suas toscas jangadas.  Uma perigosa aventura, mas este pescador sempre retorna à choupana com as redes repletas do pescado.  Infelizmente, nunca retorna para o contentamento da mulher, que apesar dos peixes trazidos pelo marido, este ainda leva a maior bronca da companheira: - Mas é só isto?  É muito pouco peixe para vender no mercado!!!

          E segue-se aquela costumeira ladainha de xingamentos. O pobre homem já nem liga mais para os reclamos da mulher.  Já está acostumado.  Fazer o que?  Ele apenas sonha.  Sonha com o dia em que poderá deixar aquela vida de pescador, que já foi melhor um dia...

          Já o pescador amador, é diferente; ele pode ser encontrado em qualquer lugar, até mesmo diante do nosso espelho.  Todos os dias nos deparamos com elke.  O amador, é mais ou menos assim: Vai pescar, vestido a caráter: usa botas, roupa apropriada, chapéu, uma bolsa de couro com muitas divisões para anzóis de todos os tamanhos e de toda qualidade, máquina fotográfica para fotografar o (os) peixe (s), molinete importado, iscas naturais e artificiais, etc.

          Sai para pescar em seu carro próprio, e procura um lugar, de preferência onde possa estacionar na beirinha do rio.  Leva barraca de camping, lanterna, lampião a gás, e farta matula de sanduíches, queijos, carnes, enfim, equipado de tudo quanto possa imaginar que será necessário para uma verdadeira "aventura". 

          Ele passa a noite acampado, e passa boa parte do dia seguinte na beira do rio.  Consegue, depois de muito esforço e tempo, fisgar um minúsculo e glorioso peixinho.  Na beira do rio, as horas não passam; se arrastam lentamente, para desespero do pescador.  Finalmente ele desiste da pescaria. E, retornando à sua casa, cansado, vira o samburá sobre a mesa, e com alguns vigorosos tapinhas no fundo do cesto, cai sobre um prato aquele lambarizinho, já ressequido pelo sol causticante...

          A mulher, admirada, lhe diz: - Nossa, meu bem, foi você mesmo que conseguiu pegar esse peixe?  Como foi isso?  E ele, orgulhoso, conta-lhe estórias e mais estórias; do trabalho ue deu para pegar aquele peixe; dos mosquitos que enfrentou, e de como deixou escapar um peixe maior que aquele, enfim, a fotografia que ele tirou, não o deixará mentir.

          Foi ele mesmo que fisgou aquele, que se constituirá no seu verdadeiro troféu.  Foi uma pescaria e tanto.  Esse é o pescador amador. 
Como diríamos: "Habemus piscium"  (temos peixe)

A VIDA EM FILOSOFIA

Esta vida é uma Epopéia,
No grande Livro da História;
Onde a Humanidade é platéia,
de opinião contraditória.

          A vida é uma grande estrada,
          por onde caminha a humanidade;
          escrevendo uma História chamada,
          O Romance da Eternidade.

A maior comédia da vida,
consiste na pura ilusão;
buscar a juventude perdida,
nas mãos de um cirurgião.

          Na maratona desta vida,
          como louco estou correndo;
          e ganhar essa corrida,
          eu também estou querendo.

Perguntam por que sou palhaço,
saltitante na Grande Avenida;
minhas acrobacias eu faço,
revidando a tristeza da vida.

          Acontece ao político,
          que de tanto prometer,
          tem a memória paralítica,
          depois de se eleger.

Façam seu jogo senhores,
No Grande Cassino da Vida;
joguem todos seus amores,
que a sorte está prometida.

          São ingredientes do jogo,
          o dinheiro, a paixão e a bebida;
          queimando os homens no fogo,
          do Grande Cassino da Vida.

Qual imenso teatro de bruxedo,
e num cenário cheio de cores;
a Vida desenrola o seu enredo,
e sem querer, somos atores.

          Sei que desta vida não levo,
          nem riquezas nem vaidade;
          por este motivo eu escrevo,
          versos de Amor e Saudade.


MODA CAIPIRA


Moda Sertanena

..."Em riba do espêio
    eu pindurei o arreio,
    lari-larai, lari-larai"...
          Estes versos, ficaram gravados na minha memória.  Eu os trago comigo desde os tempos de criança.  Já faz mais de 40 ano.  E, assim como nunca os esqueci, jamais concordei com a sua construção.


          Ouvi estes versos, cantados por uma dupla de violeiros e cantadores, que se intitulavam "Canário e Canarinho".  Não me lembro direito da música, nem da letra completa; apenas destes versos.  Outra fala que me lembro, é a seguinte: 
- "Queridos ouvintes, o bom dia do Zeca"...
- "E o bom dia do Zequinha"...
- "Nóis vamo apresentá, de nossa própia autoria, uma musga que trais por título,
    Jardim Sem Flor"... (?!!!)

          Esse maneirismo, essa fala decorada, já desgastada pelo tempo, era muito comum em programas radiofônicos que transmitiam as apresentações (ao vivo), de duplas sertanejas.  Talvez ainda seja comum até hoje, nas Emissoras de rádio por esse Brasil afora, mais do que a gente possa imaginar.... ...

          Mas, como eu dizia, este assunto me faz voltar no tempo.  Tudo está diante dos meus olhos, na minha lembrança.  Recordo que na minha pequena e querida cidade de Passa Quatro, Minas Gerais, as apresentações de violeiros e cantadores eram freqüentes na emissora de rádio que lá havia; a Rádio Clube de Passa Quatro..  Acho que vem de lá, o meu gosto pela música sertaneja.

          Esse tipo de música sobrevive através dos tempos, pela força de sua expressão.  Mas há uma diferença que se faz sentir entre a música Sertaneja, e a "Moda Caipira", propriamente dita.  A música sertaneja, é feita com versos muito bem construídos, e possui uma boa qualidade musical;  a moda caipira, é feita por gente muito simples, na maior das vezes semi-alfabetizada, e deixa muito a desejar em termos de linguagem, construção de versos e qualidade musical.

          As duplas caipiras, como invariavelmente acontece, insistem apresentar músicas de sua "própia autoria".  Com certeza, aí está a razão da dua rejeição, com raríssimas exceções.  O caipira comete certas ingenuidades que o tornam hilário, desde a letra de suas músicas, o nome da dupla, ou por exemplo, escrever na aba do seu chapéu de palha o nome de cada componente da dupla de violeiros cantadores.  Isso é o cúmulo da caipirice. 

          Por isso eu digo que música ou dupla sertaneja é uma coisa, e dupla caipira é outra. Duplas sertanejas existem poucas.  Duplas Caipiras existem muitas; centenas, talvez milhares.  A propósito, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse uma vez, que o povo brasileiro era caipira, e foi muito criticado por isso.  Posteriormente ele se justificou, dizendo que sua intenção  não era ofender, e que ele próprio se considerava um "caipira".

          Assim como o nosso ex-presidente, eu também digo que sou um caipira. Nasci caipira, mas não gosto de caipirices.  Inclusive, já desacostumei de falar: UAI !...

DISCURSO POLÍTICO

          A Festa do Fogueirão, (Festa Junina),  no Bairro Paraíso, em Resende-RJ, já foi muito famosa.  Mas acabou.  Como tudo se acaba.  As coisas não duram para sempre.  Resta-nos agora, as boas lembranças daquela festa, como pude presenciar certa vez, a apresentação ao vivo, da dupla Tonico e Tinoco, e outras duplas sertanejas e conjuntos musicais do tipo "country".


          Lembro-me também, de ter presenciado um fato singular que ainda hoje guardo na lembrança. Acho que foi por volta dos anos 1986 ou 1987, se não me falha a memória.  Foi durante um discurso político, como sempre acontecia naquela festa, já que a mesma tinha o apôio da Prefeitura.

          ... A Praça do Balanço, no Bairro Paraíso, estava lotada naquela noite junina.  Muita gente mesmo.  De todos os bairros.  Parecia ue Resende em peso estava presente.  No centro da praça, a fogueira com 30 metros de altura, tinha o seu horário de queima conjuntamente com o show pirotécnico marcado para a meia-noite.  Um espetáculo, que todos queriam assistir.  

          Era quase tudo igual, todo ano; a fogueira e os shows musicais durante a festa.  De praxe, os políticos marcavam um intervalo para discursar para o povão. Mas naquela noite... Bem, vamos ao fato:
... A tônica do discurso político proferido naquela oportunidade, prestava uma homenagem ao idealizador daquela festa, que por sinal já havia falecido, mas a homenagem era dirigida à sua família e aos perpetuadores daquela tradição festeira.

          O nosso político, eloqüente, sentiu-se à vontade, diante da multidão presente.  Não me recordo da íntegra do seu discurso, mas de um trecho, eu jamais vou esquecer.  Foram exatamente estas, as suas palavras: ..."Eu quero parabenizar os organizadores desta festa magnífica... E eu espero, que daqui a cem anos, os nossos antepassados ainda continuem perpetuando esta festa maravilhosa!!!"...

          A multidão presente, estava silenciosa.  Todos ouviam com atenção aquele discurso, e aparentemente ninguém notou nada de errado em suas palavras.  Ou melhor, quase ninguém notou, ou prestou atenção, a não ser uma garotinha, aparentando mais ou menos 9 ou 10 anos.  Ela também estava ali, parada, a certa distância do palanque, junto com o seu papai, que tinha assim a aparência de um senhor muito distinto.  Inquieta, a menina não se conteve, e perguntou: - "pai, antepassado, não é o vovô e a vovó?"

          O senhor de aparência distinta esboçou um sorriso, como quem de repente se dá conta do disparate que acabara de ouvir, e apenas cochichou qualquer coisa à sua filhinha, acalmando-a. Confesso que naquele momento, eu também me liguei nas palavras do nosso político, justamente por ter presenciado o fato daquela esperta garotinha, que sem qualquer parcimônia, exigiu uma resposta  do seu, certamente idolatrado papai.  Francamente...

          Depois dessa, os nossos antepassados devem ter estremecido em suas respectivas tumbas, onde descansam em paz, eternamente.
Em tempo de festas



     

CORAÇÃO GENUFLEXO



          Aconteceu em Resende, ano de 1990, se não me falha a memória.  O local, foi no CCRR (Centro Cultural e Recreativo Resendense).  O evento, foi a entrega do título de Cidadão Resendense, a um empresário local, de nome Marcelo Gonçalves, entre outros agraciados. 


          Um fato singular, mas curioso, aconteceu naquele dia, ou melhor, naquela noite, mas que ainda hoje guardo na lembrança. ... Reunidos no auditório do CCRR, o público, os homenageados, vereadores, e alguns políticos, entre os quais, Noel de Carvalho, na época prefeito, e também da época, o Deputado José Mauricio.  Vamos ao fato:

          ... Iniciada a sessão solene da entrega do título de Cidadão Resendense, e seguindo uma parte introdutória, ouvimos vários discursos.  Discursos muito bons, proferidos por experientes oradores. Mas eu fiquei mesmo admirado, foi com o discurso do deputado, José Maurício.

          Ele falava com voz alta, eloqüente, e com um entusiasmo que arrancava aplausos a todo instante.  Ele dispunha de um vocabulário rico, e sabia construir frases de improviso, usando palavras bonitas, e às vezes palavras não muito comuns, mas que impressionavam.  - E eu estava ali, em meio ao público presente, embevecido como muitos estavam, pelo cabedal de cultura do eminente orador.

          Já não me recordo agora, da íntegra do seu discurso, mas parece que ainda ouço uma de suas frases: "Eu e o Noel de Carvalho, de mãos dadas, e o Coração Genuflexo."
CORAÇÃO GENUFLEXO!!!  Meu ouvido atento registrou alguma coia diferente.  CORAÇÃO GENUFLEXO!
Eu nunca tinha ouvido essa expressão, daí o meu susto.  Ele a usou, num determinado momento em que falava da sua aliança com o nosso prefeito (na época), Noel de Carvalho.

          Coração Genuflexo... ... Teria o orador usado de uma impropriedade linguística?  Ou improvisado uma expressão apenas para completar sua frase com palavras rebuscadas?  Estaria correta a expressão usada?  O que significaria, na verdade?
Estas dúvidas me atormentaram pelo resto da noite.  A palavra "Genuflexo" fez recordar meus tempos de Catecismo, na Igreja Católica.  Um saudoso padre havia me ensinado, que se deve fazer uma genuflexão, ou seja, ajoelhar-se brevemente, sempre que estivermos transitando dentro da igreja, e estivermos passando diante do altar, de um lado para outro, por ser ali um lugar sagrado, e onde o Espírito Santo está sempre presente.

          Pois bem.  Procurei inicialmente, fazer uma ligação do ato de ajoelhar-se, com a expressão usada naquela noite, naquele discurso.  Mas não consegui entender; coração ajoelhado? ... Procurei no dicionário.  Lá estava:
Genuflexão, s.f. Ato de ajoelhar.
Genuflectir, v.s. compl. Dobrar o joelho, ajoelhar. 
O dicionário não esclareceu nada.
O ilustre orador, teria então usado de uma linguagem metafórica, ou de uma licença poética, ou de qualquer outra linguagem figurada.  -  Gosto de metáforas.  Algumas são bonitas, e de fácil captação do sentido que emprestam à frase, como por exemplo:
... o pé da mesa.
... os olhos do dia vão se abrindo, lentamente...

          Mas coração Genuflexo... O nosso brilhante orador não cometeu nenhum erro, porque sei que a nossa querida Linguá Pátria é muito rica e permite que se construa frases usando dos muitíssimos recursos que ela oferece.  Mas o registro fica apenas por conta do fato curioso, cuja frase ainda me soa incomum, e que eu não conseguiria usar: Coração Genuflexo!


         

AMIGOS



Estes São alguns amigos de Passa Quatro-MG.  Tenho muitos, e gostaria de coloca-los todos aqui, mas enfim, eles  estão bem guardados nas minhas lembranças.
Estes amigos são: Sidnei, Floramante, Julia, Cesar, Afrates, João Luis, e todos podem ser encontrados no Facebook.



Em Resende-RJ, também tenho muitos amigos, e aqui estão alguns deles: Luis Henrique, Daniel, Renata, Marco Aurélio, Sezar Sasson e Vera Cianelli.  Maiores detalhes destes amigos, no Facebook.



Saúdo a todos estes estimados amigos, com votos de Felicidades.  A eles, e a todos os caros leitores deste meu Blog, o meu muito obrigado, seja pelas críticas, elogios ou sugestões. Ficarei feliz, se curtirem a minha página. Felicidade a todos!

LER É PRECISO



          Estamos no inicio de um novo milênio.  Uma época de grandes transformações: da tecnologia, da informação.  O maior meio de comunicação atualmente, é a televisão.  E muitos se deixam hipnotizar por este onipresente engenho eletrônico, que diariamente está bombardeando os telespectadores com programas de todo tipo, na guerra pela audiência.  E de fato, crianças e adultos certamente sofrem algum tipo de influência deste e de outros meios de comunicação.


          Mas o mundo tem se mostrado muito violento na TV.  Infelizmente é a nossa realidade, mas neste caso, a sua influência talvez seja nefasta, agressiva.  Isto não significa no entanto, que tudo está perdido.  Acreditamos até, que justamente por estarmos no inicio de um novo milênio, ou no limiar de uma nova era, as transformações serão bastante positivas.  

          Se por um lado a TV promove a violência, ela serve também de veículo para promover a cultura e o entretenimento sadio.  Acreditamos que esta seja uma tendência, cada vez mais acentuada neste futuro próximo.

          Não faz muito tempo, estávamos assistindo pela TV, uma campanha publicitária comemorativa dos 500 anos do descobrimento do Brasil.  Em outra campanha, a bela e simpática Angélica, apresentava o projeto "leitura nas férias".  Ler é preciso; um hábito que já foi melhor cultivado, e que diminuiu muito, talvez porque as pessoas atualmente assistem mais televisão.  

          Ler, enriquece o nosso vocabulário, e enriquece o nosso espírito. É um exemplo que devemos transmitir aos jovens, às crianças.  Sobre a importância de ler, Monteiro Lobato, brilhante escritor brasileiro, nascido em Taubaté-SP, declarou certa vez que, "um país se faz com homens e livros";  e também o nosso conhecido Ziraldo, numa sacada inteligente, afirmou que, "ler, é mais importante que estudar"...

          Um professor francês, Daniel Pennac, autor de um livro intitulado "Como um romance", apresenta em seu livro, uma declaração dos direitos imprescritíveis do leitor:
1º: O direito de não ler;
2º: O direito de pular páginas;
3º: O direito de não terminar um livro;
4º: O direito de reler;
5º: O direito ao bovarismo (referência a Madame Bovary, personagem do romancista Flaubert, que se entregava com volúpia ao mundo das sensações.  Aqui, significa deixar-se arrebatar pela leitura).
6º: O direito de ler em qualquer lugar;
7º: O direito de ler uma frase aqui e outra ali;
8º: O direito de ler em voz alta;
9º: O direito de calar. 
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          Um pensamento (anônimo), também diz que, "uma casa sem livros, é um corpo sem alma"...

          Bem, todas essas considerações, ilustram a importância da leitura.  Ler, significa enriquecer nosso intelecto, nossa cultura, ampliar nossos horizontes.  Existe um mundo fascinante a ser descoberto através da leitura; e existe uma imensa variedade de bons livros que merecem ser lidos.  O importante é ler, ler de tudo; romances, poesias, jornais, crônicas, ensaios, contos, etc...  Através desta prática, podemos descobrir um estilo, uma filosofia, ou um autor que mais se identifica conosco.

          Um livro deve ser lido, pelo menos duas vezes.  É curioso notar que, quando lemos um bom livro, absorvemos da sua leitura, algum tipo de aprendizado: quando lemos esse mesmo livro pela segunda ou terceira vez, sempre descobriremos algo de novo; é como se fosse uma nova experiência, um novo livro. 

          Nos meus tempos escolares, eu ficava fascinado com o autor, José de Alencar, e o seu romance "Iracema"; ainda hoje, guardo na memória algumas de suas frases, por sua belíssima construção:  "Verdes mares bravios da minha terra natal, onde canta a jandaia nas frontes da carnaúba; verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros; serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas";

          Em outro trecho do romance: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira; o favo da jati não era doce como seu sorriso, nem a baunilha recendia no bosque o seu hálito perfumado"...
(Jati: pequena abelha que fabrica delicioso mel).  Esta obra-prima de José de Alencar, foi escrita totalmente nesta forma de prosa lírica, em que o leitor se delicia com sua musicalidade, com a riqueza de suas comparações metafóricas, entre outras figuras de linguagem.

          Enfim, como esta, outras obras, outros estilos são igualmente ricos, revelando que a nossa língua portuguesa é sem dúvida, uma das mais belas e sonoras ao ouvido, ao intelecto e ao espírito. A propósito, vale a pena refletir sobre o que disse José Bonifácio, sobre a língua portuguesa: 
"É a língua portuguesa bela, rica e sonora, menos dura que a alemã e a inglesa, mais enérgica e variada ao ouvido que a italiana, mais suave e natural que a castelhana, e superior em tudo, à francesa".

          Nestes tempos modernos, em que impera a tecnologia eletrônica, o computador pode ser uma excelente ferramenta na produção de livros, e de armazenamento de informações, mas não pode ainda, substituir o prazer de uma boa leitura, e a televisão, pode ser muito útil para promover a divulgação de bons hábitos e bons livros. 

          Um livro pode ser atualmente, a opção de um bom presente.  E barato, apesar de possuir um valor imensurável, calculado apenas por aqueles que sabem apreciar o valor de uma boa leitura.
"Bendito quem semeia livros, à mão cheia"  (Castro Alves).

HANDICAP

Estrangeirismos          Certa vez, num bate-papo informal, um dileto amigo apesar de bem intencionado, cometeu uma gafe linguística que me deixou confuso por alguns instantes.  O amigo, o qual me refiro, trabalhava nume empresa de grande porte instalada na região.  Uma multinacional.  Eu trabalhava numa empresa do setor privado.  Conversávamos


          Eu falava de experiências adquiridas naquela verdadeira escola ou universidade prática que era a "minha empresa".  ... Foi quando, para reforçar minhas palavras, o meu interlocutor imprudentemente sentenciou:
- "O seu maior handicap, é justamente contar com todos esses anos de serviço em uma mesma empresa"...

          - ? ! !...após breve momento desconcertante, captei o ue o meu amigo quis dizer, mas permaneci calado.  Apenas intimamente não concordei com a palavra, ou termo usado por ele. Eu já conhecia o significado da palavra handicap.  Já ouvira críticas a respeito.  Já ouvira locutores de rádio, usando e abusando dessa confusa palavrinha "importada". 

          Qual seria então, o seu real significado? Em se tratando de uma palavra estrangeira, qualquer dicionário inglês/português, vai traduzir: Handicap: desvantagem imposta a competidor mais forte; v.t. handicapped : restrições, dificultar, estorvar...
Portanto, handicap, ou handicape (forma aportuguesada), significa desvantagem, e não vantagem como queria o meu bem intencionado amigo.

          Essa palavra, foi muito propalada nos anos oitentas, quando locutores de rádio, principalmente esportivos, a usavam em frases mais ou menos assim:
"Será um jogo difícil, porque o time contará com o handicape de torcida e de campo"...
"Embora o Flamengo tivesse todos os handicapes imagináveis, venceu o jogo".
Trata-se de um estrangeirismo, como tantos outros ue o brasileiro gosta de trazer para a nossa língua.
Tudo bem, não é nenhum pecado usar um termo emprestado de vez em quando, até mesmo aportuguesa-lo, como é o caso de handicape. O fato é bastante natural.

          Nossa língua já foi mais fechada a termos estrangeiros.  Hoje , no entanto, temos até necessidade do uso destes estrangeirismos, venham de onde vierem.  Estamos vivendo num mundo dinâmico, onde a tecnologia, principalmente a informática, nos arrasta diariamente a uma gama de novos termos.  Mas é bom não exagerar, para não distanciarmos muito da nossa língua, que também é muito rica e bonita.

          Fernando Pessoa, um escritos famoso, disse certa vez: "Minha Pátria, é a Língua Portuguesa".
Bonito pensamento, porém hoje, não é tão prático em termos linguísticos. Sem exageros, é claro SEM HANDICAPES.


À LA PAGE

          "À la page", é uma locução francesa muito difundida nos meios literários, que significa estar em dis com a moda ou com o gosto reinante, ou ao corrente do que se faz ou que se diz.  É uma criação da linguagem popular que passa à literatura.


          Vamos tomar um exemplo prático: Regina Casé, apresentou na TV, não faz muito tempo, um programa chamado "Muvuca".  Essa palavra, em breve estará em todos os dicionários, significando um agrupamento de pessoas ou de coisas, conforme explicado pela própria Casé.

          A língua é um costume.  Sendo assim, qualquer transgressão à norma culta deixa de sê-lo no exato momento em que a maioria do povo a cometa, passando desta forma, a constituir um fato linguístico. É também necessário o aval da nossa Academia Brasileira de Letras. 

          Outras palavras existem, já consagradas à nossa língua, como por exemplo, "zorra", significando confusão,  ou "saliva", no sentido de conseguir algo através de conversa,  ou "muquirana", que além de piolho, significa também aquele indivíduo sovina, avarento, mesquinho, maçante, aborrecido, enfadonho, chato, etc.

          Existem palavras, que mais se aproximam de uma linguagem vulgar, como por exemplo, "mocó",  "butuca",  "rango", "massa",  e outras mais.  Neste sentido, existe uma infinidade de palavras que se constituem um verdadeiro dialeto.  Se usada com moderação e no momento certo, a gíria pode se constituir uma forte expressividade, mas o seu abuso, e de forma chula, pode se constituir num flagelo da nossa linguagem.

          A gíria, em transgressão à norma culta, só é admitida na língua falada.  A língua escrita não a tolera, a não ser em casos muito especiais, como na comunicação entre amigos, etc.  Mas no recesso do nosso lar, por exemplo, qualquer pessoa, por mais culta que seja, pode e deve usar de uma linguagem informal.

          Falando em palavras novas, existe uma palavra muito usada atualmente, mas que na verdade não encontra (ainda), abrigo seguro em nossa língua culta: é a palavra "Manauara".  Não existe. Quem nasce em Manaus, é manauense.  Os defensores da palavra "Manauara", dizem que esta significa aquele caboclo, meio índio, muito embora tenha nascido em Manaus.  Ora, se nasceu em Manaus, não há porque discrimina-lo.  É manauense.

          Nós brasileiro, estamos aprendendo atualmente a ser mais exigentes em relação a certos produtos e serviços.  Fala-se muito, em qualidade.  Qualidade total, satisfação do cliente, etc. Bem, mas acho que falta-nos ainda, sermos mais exigentes em relação à nossa própria língua.  Afinal, não só de pão material vive o homem, mas por igual do pão do espírito. Nossa palavra tem força espiritual.
questões sobre a língua portuguesa

JOKES

Piadas que ouvi contar...


Água Mineral
          Conta-se que um Ministro inglês, encontrava-se no palácio real, e estava tomando banho numa banheira. Estava à vontade,  com a porta do banheiro entreaberta.  Um criado (garçon) do palácio estava passando pelo corredor naquele momento, e algo lhe chama à atenção.  Espia pela porta entreaberta, e vê o ministro tomando banho.  Imediatamente segue pelo corredor, e dentro de instantes, retorna com uma rica bandeja e sobre esta, uma garrafa de água mineral.
Chega ao ministro ainda dentro da sua banheira, e lhe diz:
- Yes, Sir, your water.  (pois não, senhor, sua água);
O ministro, estranhando essa atitude, lhe diz:
- What are you doing?  I didn't ask for anything... (O que você está fazendo? Eu não pedi nada)...
Mas o criado lhe responde: pediu sim senhor, eu estava passando por aqui, olhei pela porta e ouvi perfeitamente quando o senhor disse: "Give me a bottle of Mineral Water"...


Detetives
          Certa vez, houve na Inglaterra, uma reunião de detetives. Entre muitos que estavam presentes, havia um detetive inglês, um americano e um português.
Cada um devia apresentar-se, e dizer o seu nome.
O detetive inglês apresentou-se:
- My name is Holmes. - Sherlock Holmes...
Houve murmúrios de admiração, por se tratar de um detetive tão famoso...
O segundo detetive, também apresentou-se:
- My name is Bond. - James Bond...
Mais murmurios, de admiração.
O terceiro detetive (português), apresentou-se:
- My name is Quim...
Alguém lhe solicita: Please, your full name (seu nome completo, por favor)
My name is Quim. - Joa-quim...


Um caipira em Nova Iorque.
          Um caipira (mineiro), aprendeu meia dúzia de palavras em inglês, tipo; I love you, How do you do, etc, e já se julgava dominando a "prosa" estrangeira.  E assim resolveu ir para Nova Iorque. Foi.
Lá em Nova Iorque, andando pela rua, resolveu comprar um pedaço de fumo de rolo, pra fazer um cigarrinho de palha.  Por sorte, encontrou uma lojinha pequena, um comercio de quinquilharias. Em Nova Iorque encontra-se de tudo, produtos do mundo inteiro.
          E o nosso caipira encontrou o que queria: um pedaço de fumo de rolo. Comprou.
A mocinha da loja lhe pergunta:
          - Once more? 
          - Eu mor em Itanhandu...
PIADAS


ERRADO PRA CACHORRO

          Vou contar dois casos.  Diferentes no contexto, mas semelhantes na sua manifestação. 
CASO I: um sujeito lá da minha terra, (MG), depois de haver tomado umas "timbucas", foi ao cemitério, chorar junto ao túmulo de um amigo.  Seu lamento era mais ou menos assim:


          ...- Meu melhor amigo, de tanto tempo! Por que você nos deixou?  A nossa turma lá no bar sente tanto a sua falta!...  Eu queria ter ido no seu lugar... Buááá, buááá... Meu amigo, meu melhor amigo, buááá, buááá... Quantas pingas nós...

          Nesse momento, porém, surge alguém para interromper a sua choradeira, dizendo-lhe que aquele túmulo não era o do amigo por quem ele chorava; - Não?!... - Não.  - Uai! Então eu chorei errado!...  E o bebum saiu trocando as pernas por entre outras tumbas...
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CASO II:  este caso, aconteceu comigo.  Diferente do bebum, eu apenas namorei errado, sem saber.  Foi assim: 

          Eu tinha apenas 16 anos, e havia arranjado uma namoradinha.  Foi lá na minha terra, em Passa Quatro.  Ela se chamava Maria Helena.  Isto aconteceu às vésperas de me transferir para Resende, onde estou até hoje.  Mas antes dessa inevitável separação, tivemos apenas dois ou três encontros muito tímidos e furtivos, pois naquele tempo, algumas garotas ainda namoravam "escondido". (escondido dos pais, dos irmãos, e de alguns vizinhos fofoqueiros). 

          Mas, separados pela distância, continuamos o nosso namoro por correspondência.  Mas tudo em segredo. Combinamos que eu mandaria minhas cartas para o endereço de uma garota chamada Otacília, amiga da Maria Helena.  Ah, e como eu também admirava essa amiga da minha namoradinha. 

          A Otacília era linda, de olhos verdes... Mas eu era fiel à minha Maria Helena.  Muitas cartas de amor trocamos.  A Maria Helena tinha uma caligrafia muito bonita, qualidade que eu admirava.  Suas letras eram grandes e arredondadas, mais parecendo um desenho artístico.  Muitos elogios eu sempre fazia à sua letra.  Acho que naquela época eu acabei me apaixonando de verdade, não só por suas cartas de amor, mas em especial por ser ela, Maria Helena, a dona daquela caligrafia tão bonita.

          Diz um ditado porém, que o azeite não se mistura com a água.  Algum tempo depois, a verdade veio à tona.  Descobri que eu estivera todo aquele tempo, namorando, ou me correspondendo, não com a minha Maria Helena, mas com a Otacília.  Aquelas palavras, aqueles "beijos" trocados por carta, e aquela caligrafia tão bonita, não eram da Maria Helena, minha namorada, mas sim da sua amiga, a Otacília.  Que decepção!...

          Descobri, por uma fatalidade do destino.  A Maria Helena também se mudou de Minas para São Paulo, junto com sua família, e o fato me foi comunicado pessoalmente por Otacília, lá em Passa Quatro; e ela me passou o novo endereço da Maria Helena.  Ainda iludido e mais que depressa, mandei uma cartinha para São Paulo, para minha namorada, pouco me importando com a possível rejeição da sua família.

          E recebi a resposta, desta vez, da própria Maria Helena:  Uma cartinha mal escrita, cheia de erros, uma letra horrível, palavras de quem mal sabia escrever.  Sinceramente, não sei como explicar. Acho que me senti como um cachorro quando quebra um vaso, ou seja, constrangido, decepcionado.
E assim terminou aquele namoro, que por um momento foi lindo, tal qual uma bolha de sabão, 
 Ploft...


GENITÁLIA PROCESSUAL

          Esta estória, não é brincadeira não... Aconteceu de fato.  Acho que foi no 1999 ou 2000 se não me falha a memória. Um caso que foi parar no Fórum de Resende. "Só sei que foi assim":


          Uma mulher (que não era feia, mas também não era bonita), se desequilibrou dentro de um ônibus em movimento e... Catapimba! Caiu por cima de alguns outros passageiros.  No que ela caiu, seu vestido levantou, deixando ver a sua genitália completamente desnuda. - Oh!!!

          Mas a mulher, mais do que rapidamente se pôs de pé, se recompôs, e para disfarçar, ainda meio sem graça, perguntou a um passageiro que ali estava, do seu lado, boquiaberto: - "Viu a ligeireza?" O passageiro respondeu: - "Ver eu vi sim, mas não sabia que tinha esse nome não"... A mulher ficou vermelha. De vergonha, ou de raiva, sei lá...

          Inconformada, a mulher culpou o motorista pelo vexame e processou a Empresa de Ônibus.  Não pela queda sofrida, mas pela consequência.  Afinal de contas, a sua respeitavel intimidade havia sido exposta no interior de um coletivo super lotado, e pior: num momento em que ela se encontrava "desprevenida".  

          Uma advogada de Itatiaia foi constituída para defende-la.  A advogada deu entrada numa ação inicial junto ao Fórum de Resende, pedindo indenização de R$3..000,00 (três mil reais). Alegou danos morais sofridos pela sua cliente.  E na sua petição, a Advogada contou direitinho essa estória, Tintim por tintim. 

          Em que pese a experiência dessa advogada, porém, nem tanto teria sido necessário relatar; bem que ela poderia ter minimizado, ou poupado certos detalhes.  Chegou a ser engraçado, contar essa estória com a devida vênia, dentro daquela austeridade reinante na sala de audiências do Fórum. Ninguém sorriu, mas podia-se adivinhar as risadinhas contidas nas faces do Meritíssimo e demais Excelências presentes.

          Do outro lado, a reclamada, ou seja, a Empresa, devidamente representada por seus prepostos, que se recusaram a pagar qualquer quantia à reclamante.  Não houve acordo.  A advogada recorreu, insistiu, arrolou testemunhas, mas os juízes que analisaram a questão, também não deram ganho de causa àquela... "Genitália processual".

          Ainda bem, pois caso contrário, já imaginaram se a moda pega?...
Transporte Coletivo de Passageiros



PAPAI NOEL ESTRESSADO

          Meu bom amigo Luis Henrique (aquele do Grupo Folclórico do Penedo), de vez em quando me manda por E-mail (villekohn@gmail), algumas coisas interessantes, que ele encontra na internete.  Ele ma mandou esse texto, do Papai Noel estressado.  Achei tão divertido, que resolvi compartilha-lo com quem interessar possa.


Cartinhas ao Bom Velhinho, que já anda de saco cheio.

Kerido Papai Noéu:
eu queria ganha um joguinho espaciau de prezente de natau...
Tenho sido um bom minino neste ano.  Ti adoro, Marco.

Querido Marco:
Sua ortografia é excelente!!! Parece um índio escrevendo...
Definitivamente, você terá uma brilhante carreira na vida... Como auxiliar de pedreiro...
Tem certeza de que não prefere um livro de português? Quanto ao joguinho espacial, darei ao seu irmão, pelo menos ele sabe escrever.
Um abraço, Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Não sei se você pode, mas eu gostaria de ver meus pais juntos outra vez este ano.
Com amor, Julia.

Querida Julia:
E o que você quer garota?
Que eu arruíne a relação do seu pai com a secretária?  Deixa ele se divertir com uns seios de verdade!!!  Melhor te dar uma Barbie.
Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Tenho sido uma boa menina este ano.
A única coisa que peço é paz e amor para o mundo.
Com amor, Sara.

Querida Sara:
Você anda fumando maconha?
Papai Noel.
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Querido Papai Noel.
Poxa, fazem 3 anos que venho pedindo um caminhãozinho de bombeiro, e nada...
Por favor, vê se desta vez me traz um.
Obrigado, Luis.

Querido Luis:
Seus pedidos já me encheram o saco!!!  Outra coisa... não é "fazem 3 anos"... cacete, não aprendeu ainda?  Use sempre "faz 1 ano";  "faz 3 anos";  "faz 2000 anos".  O verbo fazer no sentido de tempo não vai para o plural... ah, deixa prá lá... Mas enfim, desculpe-me, por favor. Quando você estiver dormindo, cou incendiar a sua casa.  Assim terá todos os caminhões de bombeiros que sempre desejou.
Papai Noel.
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Querido Papai Noel: Quero uma bike, um Nintendo, um computador, uma caixa de lego, um cachorrinho, um pônei e uma guitarra.  Com carinho, Tibúrcio.

Querido T I B U R C I O :
Mais alguma coisa? Quem foi o infeliz que te deu esse nome? Huahuahuahuah!!!
Na verdade você não quer porra nenhuma, não é mesmo? Porém tenho uma sugestão...
Porque você não pede um nome novo?
Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Deixei embaixo da árvore de natal umas empanadas para você e cenouras para as renas.
Um beijinho, Susane.

Querida Suzane:
Empanadas me dão diarreia, e cenouras fazem minhas renas peidarem na minha cara...
Quer me agradar, sua puxa-saco?
Ao invés de porcarias, ponha uma garrafa de Chivas, uns toblerones e convença sua mãe a se por com aquela lingerie transparente que ela usa com o carpinteiro.
Um beijão, Papai Noel.
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Querido Papai Noel:
Por favor! Por favor! Por favor! Por favor!  Dá um cachorrinho pra mim!!
Por favor! Por favor! Por favor!
Com imploração, Juninho.

Querido Juninho:
Esse tipo de imploração funciona melhor com seus pais, já que você é adotado...
(Ops falei! Agora já era) e eles te toleram demais... Comigo não funciona...
Comigo o buraco é mais embaixo.  Pare de ser mala, vou te dar outro pijama.
Papai Noel (Hehehe)...
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FELIZ NATAL A TODOS !


"CAUSOS" DE POLICIA

VampiroCASO 1: Uma senhora vai à delegacia de policia, apresentar queixa do marido.  Alega que o marido bebe muito, bate nas crianças e quer botá-la pra fora de casa.  Ao mesmo tempo, suplica ao delegado:
"sabe seu dotô, mas eu não queria que o senhor prendesse ele não... Eu só queria, que o senhor desse um susto nele"...
O delegado, já acostumado com essas queixas tão comuns, responde irônico:
-- Ah, é só para dar um susto nele? Está bem, eu vou me vestir de vampiro, vou lá e dou um SUSTO (!) no seu marido...


CASO II:  Outro caso semelhante, é de uma outra senhora que comparece na mesma DPO de Resende, para dar queixa, desta vez, contra o seu genro.  E, conta o seu drama:  d"minha filha, vive com o fulano de tal.  Mas o meu genro bate muito nela... Minha filha está com o corpo todo marcado e tanto apanhar, e..."  O policial de plantão intervém:
-- mas, minha senhora, vai ver que a sua filha gosta de apanhar...
-- Como assim? Por que o senhor diz isso?
-- Sim, minha senhora, porque na verdade, quem deveria apresentar queixa é a sua filha, mas vai ver que ela gosta de apanhar.  Tem muita mulher que gosta.  Eu conheço muitas.  Mas elas não dizem, e nem largam do marido.  Por mais que sofram.  Vai ver que é o caso da sua filha.  A senhora já pensou nisso?
O policial tanto falou, que a mulher ficou em dúvida, saindo da delegacia sem resolver o problema da filha. 
--- ..." É, vai que os home tá com a razão "...

CASO III;  Este caso ficou famoso em Resende.  É o caso dos baldes.  Vamos recorda-lo para quem ainda não conhece.  Aconteceu no bairro Cidade Alegria, em um daqueles blocos de apartamentos.
          ... Certa mulher casada, não obstante, ficava feliz em receber a visita cada vez mais frequente do "Ricardão" (na ausência do marido, é claro).  E, para tanto, bolaram um plano que funcionou bem durante certo tempo.  Até que um dia...
Bem, o caso é o seguinte: eles combinaram uma senha: A COR DO BALDE;  se o marido estava em casa, a mulher colocava um balde vermelho no lado de fora da porta de entrada do apartamento, significando "barra suja", mas se o marido não estava, ele colocava um balde cor verde, significando que o Ricardão poderia entrar, que a "barra estava limpa" ...
Aconteceu que um dia "o caldo entornou".  A mulher esqueceu de trocar o balde verde pelo vermelho, e não deu outra: o Ricardão, cheio da confiança e liberdade para com a mulher, adentrou o apartamento como se estivesse em sua própria casa;  o maridão, naquele minusculo apartamento, deu o "flagra" !!!... Foi a maior confusão.  O caso foi parar direto na delegacia, para gozação geral, principalmente dos radialistas que adoram estorinhas policiais desse tipo, para dramatiza-las em seus programas radiofônicos. 
Como diz o ditado: TANTO VAI O CÂNTARO À FONTE QUE UM DIA VEM QUEBRADO...




GAFITES

          Gafite, segundo Luiz Antonio Sacconi, professor de português de Ribeirão Preto-SP, é uma espécie de vírus que ataca, não nossos computadores, mas a nossa língua portuguesa, falada ou escrita.  Seria, por assim dizer, o supra-sumo da gafe, ou em outras palavras, a gafe levado ao seu limite máximo de intolerância.


          As gafes que vamos apresentar nesta oportunidade, andaram rolando aí pela internete, e foram-me enviadas por uma cunhada, que por sua vez, recebeu de uma amiga, "and so on"... São pérolas extraídas das redações dos exames vestibulares do ano de 2002, cujo tema foi "Mãe Natureza".  São muitas, e aqui apresentamos algumas, respeitando a forma, ou a grafia com que foram escritas:

"os desmatamentos de animais precisam acabar"...
*** ***
"precizamos de menos desmatamentos e mais florestas arborizadas"...
*** ***
"é um problema de muita gravidez devido aos raios ultra-violentos"...
*** ***
"os lagos são formados pelas bacias esferográficas"...
*** ***
"o problema ainda é maior se tratando da camada Diozoni"...
*** ***
"na época de Cristo não haviam hindustrias para poluir e assim mesmo haviam problemas sociais entre os povos"...
*** ***
"o que é de interesse de todos nem sempre interessa a ninguém"...
*** ***
"a natureza foi discuberta pelos homens a 500 anos atrás"...
*** ***
"não preserve apenas o meio ambiente, mas sim todo ele"...
*** ***
"hoje endia a natureza não é mais aquela"...
*** ***
"precisamos agir de maneira inesperável".,..
*** ***
"na Amazonas está cendo a maior derrubagem e extração de madeira do Brasil"...
*** ***
"vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós"...
*** ***
"por isso eu luto para atingir os meus obstáculos"...
*** ***
"o fenômeno Euninho"...
*** *** *** *** *** *** ***
          Conclusão: de quem seria a culpa desta dramática situação? Do ensino que está cada vez mais ruim, ou dos nossos estudantes que estão cada vez mais desinteressados?
Não sei, é triste essa constatação, mas valem estas gafes, como terapia do sorriso...



PARA RIR, OU CHORAR

          Talvez, alguém ainda se lembre do fato: acho que foi no ano de 1978, quando o Jornal do Brasil trouxe uma pequena matéria intitulada "COBRA EPIGRAFADA".  Naquela época, achei aquele artigo simplesmente hilariante.  Parecia piada, mas o artigo chamava à atenção para uma dura realidade.  Realidade que ainda hoje assola este país em termos de cultura, e de agressão ao vernáculo.  Tive o cuidado de recortar o artigo publicado, e guarda-lo.  Hoje, passados mais de 30 anos, ocupo-me nesta crônica em reproduzir aquilo ue foi publicado pelo JB.  Aqui vai, pois, a sua reprodução exatamente como foi escrito:


          Cobra epigrafada. - Poucos textos ultimamente publicados conseguem ser tão deliciosos e ao mesmo tempo tão dramáticos quanto a página assinada por Eduardo Almeida Reis, no último número da revista Granja.
Depois de se debruçar sobre os relatórios da Carteira Agrícola do Bando do Brasil, Almeida Reis pinçou frases neles contidas e as transcreveu tendo o cuidado de conservar a grafia e estilo dos fiscais do Banco.  São muitas, e aí vão reproduzidas algumas:

- "O sol castigou o mandiocal.  Se não fosse esse gigante astro, as safras seriam de acordo com as chuvas que não vieram".
***
- "Mutuário triste e solitário pelo abandono da mulher, não pode produzir".
***
- "Acho bom o Banco suspender o negócio do cliente, para não ter aborrecimentos futuros".
***
- "Vistoria perigosa.  As chuvas pluviais da região inundaram o percurso que foi todo feito a custo".
***
- "Trajeto feito a pé, porque não havia animal por perto.  Despesa grátis".
***
- "o contrato permanece na mesma situação da vistoria anterior, isto é, faltando fazer as cercas que ainda não ficaram prontas".
***
- "Foi a vistoria feita a lombo de burro com quase 8 quilômetros".
***
- "Está vendendo em barraca emprestada de dia e de noite fazendo coisa boba".
***
- "A máquina elétrica financiada é toda manual e velha".
***
- "Financiado executou o trabalho braçalmente e animalmente".
***
- "O gado está gordo e forte mas não é financiado e sim emprestado para fins de vistoria que abri o bico".
***
- "O curral todo feito a caprixo.  Bem parecendo um salão de baile a fantasia".
***
- "cobra - Comunico que faltei ao expediente do dia 14 em virtude de ter sido mordido pela epigrafada".
***
- "Visitamos o açude nos fundos da fazenda e depois de longos e demorados estudos constatamos que o mesmo estava vazio".
***
- "Os anexos seguem em separado".
***
- "A lavoura nada produziu. Mutuário fugiu montado na garantia subsidiária".
***
- "Era uma ribanceira tão ribanceada que se estivesse chovendo e eu andasse a cavalo e o cavalo escorregasse, adeus fiscal".
***
- "Tendo em vista que o mutuário adquiriu aparelhagem para processar inseminação artificial, e que um dos touros holandeses morreu, sugerimos que se fizesse o treinamento de uma pessoa para tal função".
***
          A bola fica pois, com Almeida Reis, que termina lamentando a tragédia de um país que tem tido sua Agricultura entregue aos leigos de todo gênero, tragédia de confiscos, tabelamentos, alucinação fiscal e fundiária, loucura dos juros, em meio ao Governo de quem falou, um dia, em prioridade para a Agricultura.




O COIÓ


Menino tolo

          Coió, é uma palavrinha espirituosa; parece gíria, mas existe de fato.  Alguns dicionários a registram com o significado de menino tolo. 


          ... Era uma vez um menino.  Seu nome era Luiz.  Não se lhe conhecia o sobrenome, pois todos o chamavam apenas de LUIZ.  Ele não tinha nem mesmo um apelido, como era comum a tantas outras crianças da sua idade.  Luiz tinha 10 ou 11 anos, e possuía alguns traços marcantes: cabeça grande, sobrancelhas negras e espessas emendadas uma à outra sob a testa; uma expressão jocosamente caipira.  Parece que fora caracterizado ou produzido para participar daqueles folguedos juninos. Mas não; estas eram suas feições naturais, e não obstante, a sagacidade e as brincadeiras das outras crianças, lhe pouparam o desconforto de uma alcunha injuriosa.

          Na bucólica cidade zinha onde morávamos, um rio separava a cidade do campo.  Era o rio Passa Quatro.  A cidade crescera ocupando a margem esquerda do rio, e na margem direita, via-se apenas alguns casebres, e os terrenos de uma fazenda.  Margeando o rio, havia também uma estreita estrada de terra.

          Luiz morava no campo, num daqueles casebres que formavam a paisagem.  Bastava-lhe atravessar uma ponte de madeira sobre o rio divisório, caminhar uns cem metros, e já estava na cidade.  Esse trajeto, não demorava mais que 10 minutos de sua costumeira caminhada.

          Aos domingos, eu costumava passar boa parte do dia, pescando à beira daquele rio.  Era um rio pequeno, de corredeiras rasas, mas embaixo daquela ponte, formava um volume d'água, semelhante a uma lagoa, que a gente chamava de poço fundo.  O local era ótimo para uma pescaria, e o rio era rico em pequenos peixes.

          O luiz, sem ter algo para fazer objetivamente, também passava boa parte do dia como "barata-tonta", ou seja, atravessando a ponte sobre o rio, de um lado para outro, no trajeto de sua casa para a cidade, e vice-versa;

   -  Aonde você vai, Luiz?
   -  Vou para a cidade.
   -  Fazer o que?
   -  Nada...
   -  Ôoh, Luiz! Aonde você vai?
   -  Vou para casa.
   -  Fazer o que?
   -  Nada...

          Do sossego da minha pescaria, eu observava o garoto; me parecia sem nexo suas idas e vindas, de lá pra cá, de cá pra lá... e para nada...(?) - Podia-se repetir mil vezes aquelas perguntas, que as respostas do garoto eram invariavelmente as mesmas.  E cada vez que o Luiz passava por ali, cruzando a ponte, ele também fazia sua perguntas sempre repetitivas;

   -  Pegou "ARGUM?"  (Ele queria saber se eu havia apanhado alguns peixes).
   -  Sim... (eu respondia).
   -  "Deixa eu ver?"  (Eu lhe mostrava uma fieira de peixes, e ele se dava por satisfeito);
   -  AAHH !...
          Na ida para a cidade, ou de volta para sua casa, naquele vai e vem, o Luiz queria saber: "pegou argum?";  "Deixa eu ver?"

          Certa vez, acho que eu não estava muito bem humorado, e antes que ele me perguntasse se eu havia "pegado argum", fui logo respondendo:
   -  "Argum" não peguei não, ôoh, Chico Bento, peguei foi lambari, mandi, timburê...
   -  Deixa eu ver?
   -  A cobra comeu...
   -  AAHH !

          O garoto era tão chato e tolo, que até esta estória ficou parecida com ele; assim meio coió, sei lá...

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